Gosto não se discute – tem gente que prefere chocolate bem doce, enquanto outros gostam de suco de limão azedo. Mas como seria viver sentindo apenas um sabor? Segundo um estudo feito por cientistas chineses, assim é a vida de algumas espécies de baleias e golfinhos que percebem apenas o gosto salgado.
A descoberta foi feita pela equipe do zoólogo Huabin Zhao, da Universidade de Wuhan, na China. Ao estudar o genoma de 12 espécies desses mamíferos, os pesquisadores identificaram que genes ligados à percepção dos sabores doce, amargo, azedo e umami haviam perdido sua função. “Isso significa que esses animais deixaram de sentir os quatro sabores”, explica Huabin. “O único gene que ainda funciona perfeitamente é o responsável pela percepção do sabor salgado”.
O zoólogo esclarece que a manutenção da capacidade de sentir o gosto do sal é essencial para a vida desses animais. “Eles vivem em um ambiente com a alta concentração de sal e precisam sentir esse gosto para controlar a quantidade da substância no organismo”, diz.
A capacidade de sentir todos os sabores foi perdida por um ancestral comum a todos os cetáceos – ordem de animais que engloba baleias e golfinhos – e que foi extinto em um período entre 36 e 53 milhões de anos atrás.
Huabin supõe que a perda da capacidade de sentir os gostos doce e amargo esteja ligada à mudança na dieta do ancestral, que deixou de comer plantas para comer carne. “A carne tem poucos compostos com sabor doce e amargo e pode ser por isso que os cetáceos não precisem sentir esses sabores”, aposta.
Outra possibilidade é que a alta concentração de sódio do mar tenha reduzido o estímulo dos sabores, o que fez com que o ancestral dos cetáceos perdesse a capacidade de senti-los. Além disso, o cientista acredita que esses animais não precisariam sentir sabores porque engolem a presa sem mastigar.
Seja qual for o motivo, a conclusão é que essas baleias e golfinhos são capazes de sentir apenas um sabor. “Isso é surpreendente porque, até então, acreditava-se que sentir os sabores era essencial para a sobrevivência dos animais, seja para estimular o apetite, seja para alertar sobre alimentos tóxicos”, completa Huabin.