Fedidos, mas amigáveis

Você já viu um gambá? Não estamos falando dos famosos animais pretos e brancos dos desenhos animados, mas sim de bichos um pouco menos simpáticos, que liberam mau cheiro quando se sentem ameaçados. Eles costumam ser vistos sozinhos, o que lhes rendeu fama de antissociais. Mas essa imagem pode mudar graças a uma pesquisa recente feita na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e na Fundação Oswaldo Cruz, que afirma que esses bichos podem viver em grupo.

Cientistas acreditavam que os gambás e cuícas, marsupiais da família Didelphidae, eram seres muito solitários. “Eles caçam sozinhos e, quando se encontram, podem até brigar entre si”, conta o biólogo Diego Astúa, da UFPE.

O gambá-de-orelha-branca ou timbu foi uma das espécies acompanhadas pelo estudo. (foto: Rafael de Albuquerque Carvalho)

O gambá-de-orelha-branca ou timbu foi uma das espécies acompanhadas pelo estudo. (foto: Rafael de Albuquerque Carvalho)

Para tirar a prova sobre os hábitos desses bichos, os pesquisadores espalharam, em uma área de mata atlântica em Guapimirim, no Rio de Janeiro, cerca de 300 ninhos artificiais. Eles observaram, então, se os gambás dividiam os ninhos ou brigavam por eles.

O resultado trouxe algumas surpresas: vários bichos demonstraram conviver em harmonia. “Alguns irmãos da mesma ninhada deitavam juntos, além de fêmeas com filhotes já desmamados ou até indivíduos de famílias diferentes”, revela Diego.

A interação entre os animais também foi observada em Recife, onde fica o campus da UFPE, quase por acaso. Durante a limpeza de uma caixa de luz no quintal do laboratório, funcionários se depararam com gambás e chamaram os pesquisadores.

“Era um grupo grande, com 13 indivíduos, sendo três adultos e os demais, filhotes de duas idades diferentes – ou seja, de pelo menos duas ninhadas –, convivendo sem hostilidade. Ficamos bem animados, foi um relato único”, relembra Diego. Segundo o pesquisador, é a primeira vez que se encontra um ninho com tantos indivíduos. Geralmente, são observados grupos menores ou apenas de mães com seus filhotes.

Diego explicou à CHC que as interações entre os animais não tinham uma razão aparente, como a reprodução ou a proteção de filhotes. “Eles simplesmente preferiram conviver do que estranhar a presença do outro”, diz. Para descobrir por que os gambás resolveram dividir espaço, ainda serão necessários mais estudos. Mas uma coisa já podemos dizer: até que eles não são tão antipáticos assim, né?