No Brasil falamos português. Há também outras línguas, por exemplo, as indígenas, faladas por um número cada vez mais reduzido de pessoas. Mas o que você talvez não saiba é que o interior do estado de São Paulo, há poucos séculos, também tinha uma língua própria. Acredita?
Naquela época, era muito comum o relacionamento entre colonos portugueses e índias tupis. Desse casamento surgiu a língua geral paulista, mistura da língua europeia com a indígena.
Ela foi falada até o século 19, mas acabou sumindo quando a imigração de portugueses para o país se intensificou por causa das atividades de mineração. Depois de extinta, foram poucos os registros encontrados sobre a língua até que, recentemente, foi descoberto o Vocabulário Elementar, uma lista com 1311 expressões da língua geral paulista, publicada na Revista do Arquivo Municipal de São Paulo.
Esquecida entre muitos outros artigos publicados por essa revista, a publicação foi encontrada pela linguista Fabiana Raquel Leite, da Universidade Estadual de Campinas. “No início, pensamos que fosse um registro de outra língua que existia nessa época, a Língua Geral Amazônica (hoje conhecida como Nheengatu), falada no norte do país e também originária do tupi”, conta.
A análise dos documentos, no entanto, mostrou que o vocabulário continha expressões faladas há séculos pela população paulista. “Apesar de os registros serem escassos, conseguimos fazer uma comparação com outros documentos da língua geral paulista”, explica a pesquisadora.
Ao contrário do que você pode estar pensando, a língua geral paulista não era nem um pouco parecida com o sotaque característico de São Paulo atualmente. Quer aprender algumas palavras?
Por exemplo, a expressão “Che cy” (lê-se da mesma forma que se escreve) queria dizer “minha mãe”. A palavra “porã” significava “bonito” e a letra “i” correspondia ao verbo ser. Agora, vamos voltar no tempo e dizer em alto e bom som: “Che cy i porã”. Acho que sua mãe vai se emocionar com o elogio – depois que você traduzir para ela, é claro.