As mudanças climáticas são hoje uma grande preocupação: milhares de pessoas pelo mundo sofrem com alagamentos, secas e outros fenômenos da natureza. Esse problema pode parecer novo, mas, há mil anos, os maias – civilização antiga que vivia na América Central antes da chegada dos europeus – já conviviam com ele e encontravam soluções interessantes. Recentemente, uma equipe internacional de arqueólogos descobriu, nas ruínas da cidade maia de Tikal, na Guatemala, o maior complexo maia de coleta e armazenamento de água.
No meio da floresta, esse povo ergueu grandes cidades de pedra que chegaram a abrigar tanta gente quanto muitas cidades brasileiras atuais. A população tinha que enfrentar um clima hostil: metade do ano era de chuva e a outra metade, de seca. Para não ficar sem água para beber, tomar banho e plantar durante metade do ano, os maias construíam reservatórios de pedra para guardar água da chuva – eles eram chamados de aguadas.
O sistema de águas de Tikal, além de ter dez aguadas, contava com três represas em riachos que cortavam a cidade. Uma das represas, em frente ao Palácio, é a maior já encontrada em uma cidade da América pré-colombiana. O muro da barragem era tão largo que, durante muito tempo, os arqueólogos pensaram que era apenas uma estrada. Para se ter uma ideia, a represa podia armazenar 75 milhões de litros de água, o mesmo volume de 30 piscinas olímpicas!
Você deve estar pensado que essa água não devia ser muito limpa. Mas os maias pensavam em tudo! Os arqueólogos descobriram que os reservatórios da cidade tinham filtros – os antigos maias colocavam caixas com areia na entrada de água dos tanques para impedir que a sujeira mais grossa entrasse.
A civilização maia passou por dificuldades por volta do ano 900 da nossa era com a intensificação das secas. Porém, graças ao seu engenhoso sistema de águas, Tikal conseguiu resistir no meio da floresta por 1500 anos.
Depois dos maias, nenhum outro povo construiu novas cidades onde ficava Tikal. Para o arqueólogo chefe do estudo, Vernon Scarborough, da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, isso mostra que as tecnologias maias eram tão eficientes que poderiam servir de exemplo para nós. “Eles mantinham uma cidade inteira na floresta somente com tecnologia da Idade da Pedra”, comenta o arqueólogo. “Muitas sociedades de hoje vivem os mesmos problemas que eles enfrentavam e poderiam se beneficiar da tecnologia maia, ela pode ser readaptada para servir a nós também”.