Em um quilombo de Angra dos Reis

Santa Rita do Bracuí guarda mistério de embarcação afundada e luta para manter a memória dos escravizados.

O navio Camargo, em pintura de 1851, de Fitz Henry Lane.
AfrOrigens/Reprodução

No município de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, próximo à Serra da Bocaina, existe um recanto que guarda histórias de escravidão e resistência. Ali, nas margens do rio de Santa Rita do Bracuí, fica um quilombo de mesmo nome. A comunidade preserva a memória do tráfico de pessoas escravizadas e um mistério de 170 anos: um dos mais conhecidos navios escravagistas do mundo, o Camargo, afundou bem nessa região! Nenhum vestígio foi encontrado até hoje. Mas um novo projeto pode levar essa história por outros rumos…

Rumo às plantações de café

Na época da escravidão, era pelo território do atual quilombo do Bracuí que passavam os africanos com destino às fazendas de café. Estima-se que cerca de 500 africanos escravizados de Moçambique e Quelimane tenham sido trazidos à região a bordo do navio Camargo. Eles teriam desembarcado próximo à foz do Rio Bracuí, em terras da Fazenda Santa Rita, de propriedade do comendador José Joaquim de Souza Breves.

O local ficava bem em frente das calmas águas de Angra dos Reis, suficientemente distantes do Rio de Janeiro para as atividades ilegais e próximas das plantações de café do Vale do Paraíba paulista e fluminense, para onde seriam levados os africanos escravizados.

José de Souza Breves era um dos maiores senhores de terras e de escravizados do Brasil. Ao lado do irmão, Joaquim, comandava o tráfico ilegal de africanos e era “proprietário” de mais de cinco mil escravizados.

 

Martha Abreu
Programa de Pós-graduação em História
Universidade Federal Fluminense
Programa de Pós-Graduação em História Social
Universidade do Estado do Rio de Janeiro