Tem gambá no mangue!

Se alguém diz manguezal, você logo imagina um ambiente alagado, lamacento, com uma vegetação de raízes expostas, acertei? Nem por um instante você pensou em associar esse ecossistema que conecta os ambientes terrestre e marinho com um berçário, pensou? Pois deveria! Os manguezais são muito ricos em nutrientes, por isso são locais escolhidos por muitos animais para se reproduzirem e terem seus filhotes. Entre seus frequentadores estão moluscos, crustáceos, cavalos-marinhos e outros peixes (sim, o cavalo-marinho também é um peixe!), além de aves, répteis, anfíbios e até mamíferos. E, por falar em mamíferos, há um que parece viver muito bem em meio ao mangue (a vegetação do manguezal): o gambá!

Gambá-de-orelhas-pretas (Didelphis aurita)
Foto Christian Roger Dockhorn/Wikipédia

Aposto que você está pensando que o gambá se encontra bem adaptado ao manguezal porque os dois têm fama de fedorentos! Ora, quanta injustiça… É a oferta de alimentos que atrai o gambá-de-orelhas-pretas, cujo nome científico é Didelphis aurita

Nos manguezais, essa espécie muda a sua dieta para se adaptar a um cardápio diferente daquele encontrado nas matas e em áreas rurais e urbanas. Além de frutos, sementes e insetos, crustáceos, moluscos e até peixes. Afinal de contas, além de escalador, o gambá-de-orelhas-pretas é também um excelente nadador! 

Essas informações foram obtidas por pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ao analisarem fezes de gambás coletadas em um manguezal. Os estudos indicam que esses animais têm uma dieta do tipo generalista, isto é, comem de tudo um pouco, e isso faz com que consigam se adaptar facilmente à vida em diferentes ambientes.

O gambá-de-orelhas pretas costumam sair ao anoitecer para procurar comida.
Foto Leandro de Oliveira Drummond

A bolsa e a defesa

Os gambás são marsupiais, assim como os cangurus. Isso significa que as fêmeas têm um marsúpio, uma espécie de bolsa na barriga, na qual os filhotes completam seu desenvolvimento depois de nascidos. Curioso isso, não? 

A natureza tem mesmo diferentes formas para proteger os embriões até que estejam prontos para habitar os diferentes ambientes. No caso dos mamíferos, há aqueles cujos filhotes se desenvolvem completamente dentro do corpo da fêmea, como ocorre com os humanos, por exemplo, mas há também os que colocam ovos, como os ornitorrincos, e aqueles cujos filhotes passam uma parte da gestação dentro do corpo da fêmea e completam seu desenvolvimento fora do ventre da mãe, dentro do marsúpio, como os gambás, os cangurus e os coalas. 

Para se defenderem quando se sentem ameaçados, os gambás apresentam dois comportamentos: fingem-se de mortos e exalam um cheiro forte e muito fedido. Nos dois casos, o objetivo é fazer o predador desistir do ataque e deixá-los em paz.

Jean Carlos Miranda
Departamento de Ciências Exatas, Biológicas e da Terra
Universidade Federal Fluminense

Ricardo Tadeu Santori
Wanessa Melo da Silva
Núcleo de Pesquisa e Ensino de Ciências
Faculdade de Formação de Professores
Universidade do Estado do Rio de Janeiro