Verdes aliadas

Plantas têm cada nome… Chapéu-de-couro, braquiária-do-brejo, alface-d’água! Taboa – também chamada capim-de-esteira, paina-de-flecha ou pau-de-lagoa. Salvínia, conhecida em alguns lugares como mururé-carrapatinho ou orelha-de-onça. Que apelidos esquisitos!

Nomes estranhos à parte, as plantas do parágrafo acima têm outra característica em comum: são capazes de despoluir as águas que um dia foram contaminadas por metais pesados. “Elas demonstram notável capacidade de filtrar elementos tóxicos como chumbo, cádmio, arsênio e cromo”, conta o botânico Evaristo Castro, da Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais.

Plantas aquáticas como alface-d'água são capazes de descontaminar águas poluídas por metais pesados. É o que os cientistas chamam de fitorremediação. (foto: Ana Carolina Oliveira Duarte)

Plantas aquáticas como o alface-d’água são capazes de descontaminar águas poluídas por metais pesados. É o que os cientistas chamam de fitorremediação. (foto: Ana Carolina Oliveira Duarte)

Após realizar testes para descobrir que plantas são mais indicadas para recuperar rios e cursos d’água poluídos por resíduos industriais, Evaristo descobriu que chapéu-de-couro (Echinodorus grandiflorus), braquiária-do-brejo (Brachiaria arrecta), alface-d’água (Pistia stratiotes), taboa (Typha domingensis) e salvínia (Salvinia auriculata) funcionam como verdadeiros filtros de poluição.

A taboa pode ser um eficiente filtro biológico! E tem um detalhe: ela também consegue remediar águas acometidas por resíduos orgânicos vindos do esgoto. (foto: Divulgação)

A taboa pode ser um eficiente filtro biológico! E tem um detalhe: ela também consegue remediar águas acometidas por resíduos orgânicos vindos do esgoto. (foto: Divulgação)

Apesar de serem encontrados naturalmente no ambiente, quando despejados em grandes quantidades nos rios, os metais pesados podem causar problemas para animais, plantas e seres humanos que consomem essas águas.

Entre as indústrias que mais causam esse tipo de poluição estão a têxtil – que usa arsênio e outros metais nos corantes aplicados em tecidos –, a de mineração e metalurgia e até a agricultura – pelo uso de agrotóxicos. “Todas essas atividades elevam o teor de metais pesados no ambiente e trazem riscos para a população”, alerta Evaristo.

Livrar a natureza desse tipo de poluição não é fácil.  “Os métodos convencionais para tratamento de águas poluídas por esses metais são bem caros e muito complexos”, explica o pesquisador. Por isso, o uso de plantas parece ser uma boa: é mais prático, mais barato e mais eficiente!

Esta é a salvínia, chamada de mururé-carrapatinho ou orelha-de-onça. (foto: Divulgação)

Esta é a salvínia, chamada de mururé-carrapatinho ou orelha-de-onça. (foto: Divulgação)

Até agora, esse método está sendo testado apenas em laboratório. Mas a equipe de Evaristo pretende, em breve, procurar algumas empresas, apresentar a ideia e aplicar o plano em um rio de verdade. Tomara que dê certo…

Plantas metálicas
Aposto que dessa você não sabia: em vez de extrair metais a partir dos solos, é possível obtê-los de dentro das plantas! É o que alguns chamam de fitomineração. Basta pegar uma planta que tenha sido usada para filtrar metais e, em seguida, queimá-la em um forno adequado para esse procedimento. As cinzas que sobrarem conterão os metais, que podem ser separados por meio de processos especiais. Dessa maneira, de 10 quilos de chapéu-de-couro, é possível extrair 1,13 quilos de chumbo para reutilização na indústria, sem aumentar a quantidade do metal pesado no ambiente.