A anta, o carbono, o clima

Quando pensamos em bichos, pensamos em cadeia alimentar, ecossistema, biodiversidade. Quando pensamos em carbono, pensamos em efeito estufa, fotossíntese, floresta. E, quando pensamos em clima, pensamos em calor, frio, chuva. Parece difícil juntar todas essas coisas, mas pode apostar: neste planeta que chamamos de lar, tudo está conectado!

A anta é um animal de grande porte, capaz de dispersar grandes sementes e, assim, ajudar na renovação das árvores de madeira dura da mata atlântica. (foto: Mauro Galetti)

A anta é um animal de grande porte, capaz de dispersar grandes sementes e, assim, ajudar na renovação das árvores de madeira dura da mata atlântica. (foto: Mauro Galetti)

Acompanhe o raciocínio: as florestas desempenham um serviço muito importante ao planeta, chamado pelos cientistas de sequestro de carbono. Ao realizarem fotossíntese, elas capturam o gás carbônico da atmosfera e liberam oxigênio – um processo que ajuda a equilibrar o clima, já que o excesso de gás carbônico aumenta o efeito estufa e aquece a Terra. Então, florestas têm tudo a ver com o clima!

Mas onde entram as antas nessa história? Calma, que eu já explico. Na natureza, os animais, especialmente mamíferos e aves, atuam como dispersores de sementes, isto é, carregam as sementes de um lugar a outro, para que possam brotar e formar novas plantas. Então, a presença desses bichos é fundamental para que a população de árvores de uma floresta se renove.

Nas florestas onde a fauna é preservada, a dispersão das grandes sementes é realizada por animais de grande porte. A presença de árvores de madeira dura aumenta a capacidade da mata de absorver gás carbônico. (gráfico: Mauro Galetti – tradução livre)

Nas florestas onde a fauna é preservada, a dispersão das grandes sementes é realizada por animais de grande porte. A presença de árvores de madeira dura aumenta a capacidade da mata de absorver gás carbônico. (gráfico: Mauro Galetti – tradução livre)

Numa floresta, as espécies vegetais que capturam mais carbono da atmosfera são, em geral, as árvores grandes e de madeira dura. Ao mesmo tempo, elas também costumam produzir as maiores sementes. Por isso, precisam de grandes animais para espalhá-las por aí. A anta é uma grande parceira nesse trabalho – mas não a única: na mata atlântica, por exemplo, os muriquis e as jacutingas também ajudam a dispersar grandes sementes.

Sementes de jatobá. (foto: Mauro Galetti)

Sementes de jatobá. (foto: Mauro Galetti)

Infelizmente, as grandes espécies animais são também as mais ameaçadas pela caça e pelo tráfico ilegal. Se elas sumirem das nossas florestas, em breve as matas verão as consequências. “Imagine que uma floresta tem 100 árvores, sendo 20 dispersadas por grandes mamíferos e que produzem madeira dura. Se esses bichos, como a anta, são extintos, essas árvores um dia morrem e são substituídas por outras espécies de madeira mole e sementes menores, como a embaúba”, explica o ecólogo Mauro Galetti, da Universidade Estadual Paulista de Rio Claro. No final, haverá um déficit de carbono, porque as madeiras moles armazenam menos carbono que as madeiras duras.

Mauro disse à CHC que precisamos mudar a forma como pensamos hoje a preservação das matas. Mesmo que uma floresta pareça intacta à primeira vista, se ela não tiver grandes animais como habitantes, está degradada. Na opinião do cientista, as ameaças à fauna devem ser consideradas, portanto, tão graves quanto as queimadas e a exploração de madeira.