Não é difícil perceber a importância da religião católica na vida da maioria dos brasileiros. Durante o ano, vários feriados religiosos são comemorados no país, além da tradição de cada cidade ter seu santo padroeiro. Mas como será que essa influência começou? A exposição de arte barroca que faz parte da Mostra do Redescobrimento nos conta um pouco dessa história.
Os primeiros santos da Igreja Católica chegaram ao Brasil em 1500, nas caravelas de Pedro Álvares Cabral. Para tentar catequizar os índios, os padres jesuítas produziam com eles imagens de santos feitas de barro cozido e madeira. Eles talhavam e moldavam as imagens com caras arredondadas, olhos amendoados, mais gordos e baixos – caraterísticas físicas típicas dos índios. Essa foi uma das alternativas da Igreja para facilitar a catequização do povos indígenas. Obras produzidas nessa época podem ser vistas na exposição.
Mas foi no século 17 que a arte teve papel fundamental no catolicismo. Nessa época, o catolicismo perdia na Europa fiéis para outras religiões que estavam surgindo (conhecidas como protestantes). E a arte surgiu como um meio para atrair as pessoas e trazê-las de volta para a religião. O barroco passou então a ser incentivado pelos líderes da Igreja. Com uma arquitetura cheia de curvas e ornamentos, os religiosos queriam ensinar a fé de maneira mais cativante. A forte presença do ouro nas obras representava o luxo, a riqueza e o poder do catolicismo. As peças eram marcadas pela expressão corporal e dramaticidade das imagens. Resultado: a recuperação de fiéis foi enorme.
No Brasil, o ciclo do ouro, no século 18, além de facilitar o enriquecimento de muitos, favoreceu também o surgimento do barroco. Foi o primeiro movimento artístico do país, desenvolvido principalmente em cidades mineiras como Ouro Preto, onde destacou-se o escultor Aleijadinho. Nessas cidades, o barroco promovia um grande constraste entre igrejas e casas. Enquanto as primeiras ostentavam muito ouro, as moradias eram de arquitetura simples. A beleza das igrejas impressionava muito as pessoas. Na exposição, podemos ver também várias peças usadas em missas, procissões, batismos e casamentos da época.
Acho que deu para entender um pouco mais como a Igreja Católica adquiriu tanta importância no nosso país. Atualmente, as manifestações religiosas se exprimem de outras formas, como romarias (bastante comuns no interior brasileiro), festas de padroeiros das cidades, procissões ou viagens a lugares considerados sagrados pelos católicos. Tudo isso demonstra como os objetivos da Igreja no século 18 foram alcançados, fazendo do Brasil um dos países com o maior número de católicos no mundo.
A arte do mestre Aleijadinho
Arquiteto, entalhador e escultor, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho foi um dos mais importantes artistas brasileiros. Filho de arquiteto com uma escrava, ele herdou do pai o gosto pela arte. Aos 13 anos, começou a observar o trabalho do pai, iniciando as suas primeiras obras. Nos anos seguintes, aprendeu os segredos do desenho a mão livre, da ornamentação e do rococó (barroco cheio de detalhes, mas leve e gracioso).
Por ser mulato, Aleijadinho não podia entrar nas igrejas freqüentadas por brancos, mas era convidado para decorá-las por causa do seu talento. Antes dos 50 anos, o artista começou a sofrer os primeiros sintomas de uma doença que o deformou fisicamente, e resultou no apelido. Mas isso não o impediu de dar continuidade a suas obras. Como sua aparência causava espanto nas pessoas, o artista começou a trabalhar escondido para que ninguém o visse.
As obras de Aleijadinho ornamentam a entrada e a decoração interior das igrejas da região de Ouro Preto, em Minas Gerais. O artista morreu pobre em 1814, e seu trabalho foi esquecido por muitos anos. No século 20, Aleijadinho foi redescoberto e valorizado, sendo considerado o maior representante de nossa arte barroca.