A casa das 128 libélulas

Na cultura japonesa, libélulas são famosas como símbolo de sorte e prosperidade – mas o que você, jovem brasileiro, sabe sobre esses bichos? O quê? Nunca viu? Se prestar bastante atenção, verá que eles não são tão incomuns assim: podem ser avistados próximo a riachos e até piscinas. No início da vida, quando ainda são larvas, as libélulas vivem dentro da água. Já adultas, adoram voar perto dela! Já sabe do que estamos falando? A foto abaixo pode ajudar…

Observe o corpo comprido e as asas delicadas (i)Oxyagrion basale(/i), uma espécie de libélula. (foto: Werner Piper)

Observe o corpo comprido e as asas delicadas (i)Oxyagrion basale(/i), uma espécie de libélula. (foto: Werner Piper)

Esse grupo especial de insetos ganhou um cantinho especial em 2004, com a inauguração Refúgio de Vida Silvestre Libélulas da Serra de São José, em Minas Gerais. Dez anos depois, cientistas decidiram fazer um grande estudo sobre que espécies de libélulas fizeram do refúgio sua casa. O resultado, a CHC conta hoje para você!

Centro Histórico Tiradentes, Minas Gerais. Ao fundo, a Serra de São José, onde está o Refúgio de Vida Silvestre Libélulas da Serra de São José. (foto:Sonia Rigueira)

Centro Histórico Tiradentes, Minas Gerais. Ao fundo, a Serra de São José, onde está o Refúgio de Vida Silvestre Libélulas da Serra de São José. (foto:Sonia Rigueira)

Ao todo, foram identificadas 128 espécies de libélulas, muito diferentes umas das outras. “Este é um destaque mundial! São pouquíssimas as áreas no mundo onde se encontram tantas espécies de libélulas juntas”, destaca Lúcio Bedê, biólogo da ONG Terra Brasilis e coordenador da pesquisa. Durante o levantamento da biodiversidade ‘libelulesca’ do local, os especialistas encontraram até uma espécie ainda desconhecida da ciência.

Durante a pesquisa no Refúgio de Vida Silvestre Libélulas da Serra de São José, os cientistas descreveram uma nova espécie de libélula, (i)Heteragrion tiradentense(/i). (foto: Werner Piper)

Durante a pesquisa no Refúgio de Vida Silvestre Libélulas da Serra de São José, os cientistas descreveram uma nova espécie de libélula, (i)Heteragrion tiradentense(/i). (foto: Werner Piper)

“Chamamos a nova espécie de Heteragrion tiradentense em homenagem à cidade histórica de Tiradentes, onde foi encontrada. Descobrimos essa espécie numa das áreas de mata atlântica mais conservadas em toda a serra, exatamente onde nascem as águas que, desde 1749, abastecem o chafariz da cidade”, conta Lúcio.

Em sentido horário, começando do canto superior esquerdo: (i)Castoraeshna januaria(/i), (i)Coryphaeschna perrensi(/i), (i)Neoneura sylvatica(/i) e (i)Perithemis mooma(/i), quatro espécies fotografadas no refúgio. Veja como são diferentes! (fotos: Werner Piper, Lúcio Bedê e Marcos Magalhães)

Em sentido horário, começando do canto superior esquerdo: (i)Castoraeshna januaria(/i), (i)Coryphaeschna perrensi(/i), (i)Neoneura sylvatica(/i) e (i)Perithemis mooma(/i), quatro espécies fotografadas no refúgio. Veja como são diferentes! (fotos: Werner Piper, Lúcio Bedê e Marcos Magalhães)

Os ambientes úmidos que a Serra de São José abriga – lagoas, rios, brejos etc. – são o maior atrativo para as libélulas, que, como dissemos, adoram água. Essa característica também traz uma grande vantagem para os biólogos, que usam a presença do inseto como indicador de qualidade dos ambientes.

“Algumas libélulas são muito tolerantes à condição da água e podem ser encontradas mesmo em lugares poluídos. Mas outras são o extremo oposto: não toleram qualquer alteração do seu habitat natural. Por isso, conseguimos utilizar as libélulas como indicadores”, explica o biólogo. “Se sabemos que espécies de libélulas habitam um determinado rio, córrego ou lagoa, podemos dizer muito sobre a condição daquele ambiente”. Que tal observar se nas proximidades da sua casa há libélulas também?