Sabe aquela redação que a gente tem que escrever sempre que as aulas começam, contando as férias? Nela, a gente diz tudo o que fez, os lugares que visitou, as pessoas que conheceu… Descrevemos para a professora uma situação que ela não conheceu e não vivenciou, usando apenas as nossas palavras.
Algo parecido aconteceu há 500 anos. Os navegantes portugueses, comandados por Pedro Álvares Cabral, aportaram no litoral do Brasil e precisavam contar ao rei – que estava financiando a viagem – todas as novidades desta terra tão diferente. Mesmo não estando aqui de férias, o escrivão Pero Vaz de Caminha precisou redigir uma carta similar às redações que você faz: ele descreveu em detalhes tudo que aconteceu durante sua curta estada na “Terra de Vera Cruz” (o primeiro nome do Brasil) entre os dias 22 de abril e 2 de maio de 1500.
Como para eles era um mundo novo, os portugueses reagiram espantados. Afinal, os costumes eram totalmente estranhos aos seus – os habitantes andavam nus! -, a língua era desconhecida, a vegetação diferente… Na longa carta que Caminha escreveu, todo seu estranhamento com a nova terra está bem presente. Apesar disso, não houve maiores problemas para que as culturas indígena e portuguesa, tão diferentes entre si, pudessem se entender razoavelmente bem, sem conflitos muito grandes – pelo menos, não durante a primeira visita dos portugueses…
A carta de Caminha é o tema e a principal peça de uma exposição que faz parte da Mostra do Redescobrimento e explora as diferenças culturais entre índios e europeus. Por exemplo, são postos lado a lado os arcos e tacapes usados pelos nativos e as espadas e armaduras com que os portugueses lutavam – o que tornava os combates desiguais. Há ainda objetos curiosos, como as navetas dos séculos XVII e XVIII, que foram as primeiras peças do artesanato brasileiro a ter como o tema o descobrimento. Feitas geralmente de prata, elas eram caixinhas em forma de barco usadas para guardar os incensos queimados durante as missas.
Mas a exposição não é apenas uma comparação entre as culturas que se conheceram 500 anos atrás. As últimas salas são uma resposta à visão que Caminha teve da terra recém-descoberta. Nelas, vários artistas plásticos portugueses e brasileiros expõem suas obras, mostrando a visão particular de cada um sobre o que representou essa primeira descrição do Brasil. Será que algum dia uma carta sua vai ser tão famosa assim? Na dúvida, na próxima vez que a sua professora pedir para descrever suas férias, dê uma caprichada!