Oswaldo Cruz: o médico que revolucionou o combate a doenças no Brasil

As imagens deste perfil foram cedidas pela Biblioteca Virtual Oswaldo Cruz

Imagine só: Rio de Janeiro, 1903. Antes de ganhar o título de maravilhosa, essa cidade era conhecida como pestilenta, ou túmulo dos estrangeiros. Várias doenças contagiosas atingiam seus habitantes, algo nada bom para a então capital federal, centro dos negócios e das atenções estrangeiras.

Nesse cenário, o sanitarista Oswaldo Gonçalves Cruz, convidado pelo então presidente Rodrigues Alves, assumiu o cargo que corresponderia hoje ao de Ministro da Saúde. Arregaçou as mangas e, em menos de uma semana, já tinha um plano de combate à febre amarela, doença causada por um vírus que ataca o fígado, maior inimigo imediato. A febre amarela é transmitida ao homem por mosquitos, como o Aedes aegypti, e deixa as pessoas amareladas.

A estratégia era aparentemente simples: identificar os doentes e acabar com os focos da doença. Oswaldo estruturou a campanha em moldes militares, dividindo a cidade em 10 distritos, cada qual chefiado por um delegado de saúde. Além da polícia sanitária, formou brigadas de mata-mosquitos que, uniformizadas, tinham o poder de entrar nas casas. Foi uma verdadeira operação de guerra.

Aedes aegypti é um mosquito que, ao picar uma pessoa portadora do vírus da febre amarela ou do dengue, pode transmiti-lo a outra pessoa, também pela picada.

Em um tempo que não existia rádio ou TV, os jornais não deixaram barato, atacando sua reputação com duras críticas e maliciosas gozações. A Faculdade de Medicina achava uma maluquice atribuir a um mosquito, Aedes aegypt, a transmissão da febre amarela. Acreditava-se que a maioria das doenças era provocada pelo contato com roupas, suor, sangue e outras secreções dos doentes. Mas, contrariando as expectativas, a campanha do governo surtiu efeito e os casos da doença começaram a diminuir.

Charge publicada na França em 1911 mostra Oswaldo Cruz combatendo a febre amarela e a peste bubônica.

O próximo adversário seria a peste bubônica, transmitida por pulgas que infestam ratos. Oswaldo Cruz adotou um modelo polêmico: oferecia 300 réis por cada roedor morto. Dá para calcular a gozação, ainda mais quando as vendas de ratos se transformaram num rentável negócio?! Tinha gente que criava em casa, trazia de outros estados e até comprava ratos estrangeiros dos navios que atracavam! Mesmo com toda a malandragem, os casos diminuíram e em 1909 caíram praticamente a zero.

A peste bubônica é uma doença causada por uma bactéria que é transmitida pelas pulgas dos ratos. O nome vem dos bubões, que são gânglios linfáticos, órgãos de defesa do organismo. Quando temos certas infecções, os bubões incham.

Agora era a vez da varíola assolar a capital. Doença muito contagiosa, em alguns casos chegava a ser mortal. Ciente do perigo, Oswaldo instituiu que a vacina passaria a ser obrigatória. A partir daí, candidatos a quaisquer cargos ou funções públicas, pretendentes a casar, viajar ou matricular-se numa escola, além de todos os militares e crianças com menos de seis meses de idade, tinham de se vacinar.

Era comum ouvir nas ruas da cidade que as vacinas poderiam matar ou, no mínimo, deixar a pessoa com cara de bezerro! Dizia-se ainda que eram feitas com o sangue dos ratos comprados pelo governo na campanha contra a peste. Para completar, muita gente não tinha nem ouvido falar da novidade e se assustou quando foi obrigada a enfrentar uma seringa!

Resultado: a medida tomada por Oswaldo Cruz, somada a outras razões, deixaria a população furiosa! Mas quem era esse homem que despertou a ira de tantas pessoas? Clique aqui para descobrir!

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