Nos pés da molecada que vibra ao jogar uma pelada, latinha, garrafa plástica, caixa ou qualquer outro objeto pode servir de bola. Mas só quem joga sabe a diferença que é ter uma bola de verdade para fazer belos dribles.
Se eu digo bola, você logo imagina aquela beleza redondinha, não é mesmo? Estamos tão acostumados com o fato de a bola ser redonda que nem pensamos como seria se ela tivesse outro formato. Que tal sermos criativos e perguntar: como seria, por exemplo, “bater um cubo” em vez de “bater uma bola”?
Com certeza, o jogo seria bem diferente. A primeira dificuldade seria conduzir a bola-cubo, porque ela não rola como uma bola redonda. Experimente pegar um dado – que é um cubo – e tentar fazê-lo rolar. Ele desliza ou gira dando pequenos saltos, mas não rola suavemente como uma bola redonda.
Na hora do chute, outro problema: quando damos um bico bem no meio da bola, temos um chute sem efeito e nossa companheira segue reto, sem sofrer desvio lateral. Bicar no meio do cubo pode ter um resultado completamente diferente, dependendo da sua posição.
Sigamos imaginando que, apesar de toda dificuldade, um jogador de meio-campo consiga fazer um lançamento para um atacante. Continuaria sendo bem mais difícil dominar e controlar a bola-cubo lançada. Afinal, bater numa mesa com a quina pontuda dói mais do que bater numa quina arredondada, logo, tentar matar a bola-cubo no peito ou dar uma cabeçada poderia ser bem doloroso para os jogadores.
E o quique no gramado? Assim como na hora do chute, no momento em que a bola-cubo bate no chão, não é possível saber para que lado ela desvia!
Em resumo, por ser a única coisa capaz de rolar em todas as direções, a bola é ideal para ser chutada. Além disso, ela tem muitas outras características vantajosas, que tornam a sua forma a ideal para um esporte como o futebol: a bola voa de forma suave, é boa para quicar, rola por muito mais tempo do que qualquer outro objeto. Por não possuir lados – ao contrário de um cubo, por exemplo –, o seu movimento também é muito mais previsível.
O modo como a bola irá se mover em campo dependerá da maneira como ela for chutada pelo jogador. Isso torna o futebol um esporte de técnica, e não puramente de sorte. Muito mais justo, não?
(Esta é uma reedição do texto publicado na CHC 169.)