É claro que você já sabe: tocar em fios elétricos de alta tensão dá choque e pode colocar a vida de uma pessoa em risco. Como é que os passarinhos, então, ficam lá, pousados sobre fios nas ruas – tranquilos e sem nenhum sinal de que estão tomando choque?
Essa é a dúvida das leitoras Eduarda Araujo Urbano e Gabriela Proença Mariano, de São Miguel Arcanjo, São Paulo. Fiquei curioso e corri até o físico Beto Pimentel, professor do Colégio de Aplicação da UFRJ e autor da coluna A aventura da física aqui na CHC, para saber.
“Quando os passarinhos pousam num fio de alta tensão, eles ficam carregados eletricamente, porém não são percorridos por nenhuma corrente elétrica”, começou Beto. “Para que se estabeleça uma corrente elétrica passando pelo passarinho (ou por qualquer coisa) é preciso ligar dois pontos a tensões elétricas diferentes – é o que acontece, por exemplo, quando ligamos um aparelho elétrico na tomada”.
Beto explica que, numa tomada, há dois furos aos quais conectamos os aparelhos. Um tem 127 volts de tensão e o outro, zero, por isso é chamado de neutro. “É essa diferença de tensão que empurra os elétrons ao longo do fio e através do aparelho, fazendo-o funcionar”, completa o pesquisador.
No caso dos passarinhos pousados no fio, as duas patas estão mais ou menos à mesma tensão, ou seja, não há diferença para empurrar os elétrons e não há corrente elétrica. “Ainda que houvesse alguma diferença de tensão entre esses dois pontos, apenas uma fração minúscula da corrente elétrica atravessaria o passarinho”, diz Beto. “É que os elétrons são muito mais facilmente conduzidos pelo metal do fio do que pelo passarinho, e passariam pelo caminho mais fácil”.
Já quando uma pessoa toca o fio com as mãos e, com os pés, encosta no chão, forma-se a tal diferença de tensão que vemos nas tomadas – está aí o perigo de choque!