Você que sempre lê a Ciência Hoje das Crianças já sabe: a cada dois meses aparece a seção ’Galeria de bichos ameaçados’, com fotos das espécies em risco de extinção da fauna brasileira. Mas não é de hoje que o desaparecimento de animais chama a atenção das pessoas… Uma prova disso é uma série de pinturas de bichos ameaçados realizada em 1983 pelo artista plástico norte-americano Andy Warhol.
Quem mora no Rio de Janeiro tem agora a oportunidade de conferir essas obras em uma exposição no Museu de Arte Moderna. Mas não demore, pois ela ficará pouco tempo em cartaz! A mostra já passou por São Paulo e Curitiba. Leitores de outras cidades do Brasil podem conferir aqui uma amostra de algumas das telas da exposição, que traz dez serigrafias de bichos ameaçados feitas pelo norte-americano. Entre as espécies retratadas, estão o elefante e o rinoceronte africano, o tigre siberiano ou o panda gigante. A mostra se completa com 5 quadros pintados em 1964 e 1965 que retratam flores.
Mas você já tinha ouvido falar de Andy Warhol? Ele foi um dos mais importantes artistas do século 20, você já vai ver por quê. Nascido em 1928 e morto em 1987, ele foi o mais conhecido membro de um movimento conhecido como pop art. Esse movimento deixou muita gente com a pulga atrás da orelha porque retratava em suas telas e esculturas, sempre com cores vivas, temas que geralmente eram excluídos do repertório das obras de arte — histórias em quadrinhos, astros de cinema e até garrafas de refrigerante e outros produtos de supermercado!
Warhol provocou escândalo ao fazer, por exemplo, uma série de pinturas em que retratava cada um dos sabores das latas de Campbell’s — uma famosa marca de sopa nos Estados Unidos. Em outra obra, ele fez várias esculturas que reproduziam fielmente as caixas do sabão em pó Brillo. Isso deixou desconcertados muitos artistas, críticos de arte e donos de museus e galerias, acostumados a ver bem separados o mundo da arte e o mundo do consumo, da cultura popular. Vem daí aliás o nome do movimento artístico de Andy Warhol: pop art significa arte popular, ou simplesmente arte pop .
Mas não foi apenas com a temática de seus quadros que Warhol deixou o mundo da arte de cabelo em pé: ele foi muito importante também porque rompeu com a irreprodutibilidade das obras de arte. Calma que a gente já explica o que essa palavra esquisita quer dizer! Durante muito tempo, considerou-se que uma característica fundamental de uma obra de arte era o fato de ela ser única, impossível de copiar ou reproduzir. A Mona Lisa , famoso quadro de Leonardo da Vinci, é única: só existe uma — a que está exposta no Museu do Louvre, em Paris.
Mas com as obras de Warhol não era bem assim… Em muitos casos, ele fazia séries de centenas de quadros iguais, ou nos quais ele trocava apenas as cores. São muito famosas as séries de retratos idênticos que ele fez da atriz Marilyn Monroe ou do estadista chinês Mao Tsé-Tung (a galeria de personalidades pintadas pelo norte-americano inclui a atriz Elizabeth Taylor e até o brasileiro Pelé!).
Andy Warhol – Fauna & Flora
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Av. Infante Dom Henrique, 85 – Parque do Flamengo
De 12 a 26 de março
De terça a sexta, de 12h a 18h;
sábados, domingos e feriados, de 12h a 19h
Warhol cineasta, editor, produtor, apresentador…
Imagine o rebu que foi quando Andy Warhol começou a espalhar por aí cópias idênticas do mesmo quadro! Ele deve ter se deliciado ao ver a reação das pessoas, e talvez por isso resolveu intensificar ainda mais suas reproduções, feitas por meio de técnicas como a serigrafia. Ele imaginava suas obras de arte a partir de fotografias já existentes, criava o ‘molde’ e mandava os artistas que trabalhavam com ele produzir centenas de cópias.
Não é por acaso que o ateliê em que ele trabalhava com seus colegas em Nova Iorque era chamado de Factory, palavra que em inglês quer dizer ‘fábrica’. Era exatamente isso que ele estava fazendo: transformando o processo de criação artística — que até então era considerado algo único, quase sagrado — em um procedimento industrial, repetitivo.
O que Warhol não imaginava é que o tiro sairia de certa forma pela culatra. Com o tempo, as pessoas começaram a achar naturais suas provocações, e a imagem de artista marginal que ele havia construído foi-se por água abaixo… Aos poucos, o americano passou a ser um artista apreciado pela elite cultural e econômica nova-iorquina — a mesma que havia torcido o nariz para ele no começo de carreira. Warhol, que não era bobo, soube tirar partido da situação: ele aproveitou o status que havia adquirido e passou a cobrar caro por retratos que pintaria de membros da alta sociedade — como o costureiro Yves Saint-Laurent, a atriz Brigitte Bardot ou o industrial Gianni Agnelli, dono da Fiat.
Mas não foi apenas nas artes plásticas que Warhol causou escândalo. Ele foi também diretor de cinema, e muitos de seus filmes provocavam no público a mesma estranheza que seus quadros e esculturas. Um filme chamado Sleep (‘sono’) mostrava durante três horas uma pessoa dormindo em câmera lenta, sem nenhuma ação! Um outro filme, chamado Empire, chegou ao cúmulo: ele mostrava durante oito horas (!!!) o Empire State Building, um dos mais altos prédios de Nova Iorque, com mais de cem andares, sem que acontecesse absolutamente nada!
Warhol era um artista bastante ativo. Além dos quadros, esculturas e filmes, ele escreveu livros, foi editor de uma revista e produtor de uma banda de rock — o Velvet Underground. Talvez devido à esquisitice da música que fazia e dos temas que abordava, esse grupo vendeu pouquíssimos discos na época e só fez sucesso anos depois de ter acabado.
No fim de sua vida, Warhol teve também um programa de TV. Foi nessa época que ele fez uma ‘profecia’ que se tornaria uma de suas frases mais conhecidas. Ele disse que, “no futuro, todas as pessoas teriam 15 minutos de fama”. Basta assistir um pouco da TV de hoje em dia — cheia de atrações com pessoas anônimas, como as pegadinhas e os reality shows como o Big Brother — para concluir que o americano tinha lá seu fundo de razão…