Aquarelas do Brasil

Até 20 de janeiro de 2008, quem mora no Rio de Janeiro tem a chance de ver obras de arte que possuem muuuita história. São 70 aquarelas com quase 200 anos de idade, que retratam a capital fluminense e seus arredores, feitas pelo pintor austríaco Thomas Ender. O artista veio ao Brasil como integrante de uma expedição científica realizada em 1817, que acompanhou a princesa Leopoldina, noiva de Pedro de Bragança, o D. Pedro I, à nossa terra. Durante sua estada em território brasileiro, Thomas Ender transportou para as telas as paisagens e os costumes observados aqui.

Confira algumas obras da exposição. Esta é Rancho a caminho de Mandioca, uma das aquarelas com quase 200 anos de idade feitas por Thomas Ender e que estão expostas no Rio de Janeiro.

“Essa exposição é especial porque, após décadas, é a primeira vez que as aquarelas originais de Thomas Ender são mostradas no Brasil”, explica a escritora e historiadora austríaca Gloria Kaiser. “O papel e as tintas têm quase 200 anos de idade e, por serem muito frágeis, essas obras de arte só podem ser expostas à intensa luz do dia durante algumas semanas a cada poucas décadas. Caso contrário, o papel e as cores se modificariam, ficariam mais fracos e perderiam os contornos.” Por isso, evita-se viajar com as aquarelas de Thomas Ender e, portanto, vê-las ao vivo é algo muito difícil.

Neste trabalho, feito entre 1817 e 1818, o pintor austríaco retratou a cidade do Rio de Janeiro.

Mas qual a importância dos trabalhos do pintor austríaco? Na época em que Thomas Ender esteve no Brasil, pouquíssima gente na Europa tinha idéia da grandeza e da beleza do nosso território. O casamento entre Pedro de Bragança e Leopoldina representou para o imperador Francisco I da Áustria – o pai da noiva – a chance de mandar um grupo de pintores, minerólogos, zoólogos, botânicos e médicos para terras brasileiras. Esses profissionais tinham a missão de enviar amostras de rochas, plantas e minérios a Viena, a capital da Áustria, bem como retratar as paisagens e hábitos da então colônia portuguesa. A partir desse material, foi criado um museu brasileiro na cidade, para quem quisesse saber mais sobre a nossa terra.

Para chegar ao Brasil, Thomas Ender levou mais de três meses. Esta cena foi desenhada durante a viagem pelo oceano.

Para chegar ao Brasil, porém, a viagem de Thomas Ender foi longa. A travessia da Europa para o Rio de Janeiro durou 92 dias e, no dia 14 de julho de 1817, o veleiro Austria aportou na Baía de Guanabara. “Thomas Ender, assim como todos os outros membros da expedição, ficou embevecido com a beleza da cidade, com a paisagem tropical, com as cores exuberantes, com o singular tom de azul do céu dos trópicos. Ficou especialmente impressionado com a luz tropical, com essa luz muito especial, realmente única, que ilumina este país”, conta Gloria Kaiser.

Logo após sua chegada, o artista começou a pintar, produzindo aquarela após aquarela. Desenhou os prédios e as praças, o aqueduto do Rio de Janeiro, a Igreja da Glória, a Quinta da Boa Vista e a paisagem dos arredores do Rio de Janeiro. Também observou com cuidado a vida social da cidade, desenhou os trabalhadores do campo, os carregadores de água, a vida agitada na praça do mercado. Ficou fascinado com as novas impressões e desenhou até a exaustão física. “Desenhei dia e noite, mas depois senti as malditas conseqüências, fiquei exaurido de forças, sem quase poder andar”, escreveu ele no seu diário de viagem.

O pintor austríaco também retratou o Palácio Real de Verão de Boa Vista, que hoje é o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em primeiro plano, vemos uma carruagem com Pedro I e Leopoldina.

Em junho de 1818, quando retornou à Europa, Thomas Ender levou cerca de 800 aquarelas para Viena, além de amostras de minerais, plantas, insetos e animais empalhados. O artista, como se vê, produziu um enorme volume de trabalhos, tendo pintado duas aquarelas por dia, o que é muito!

Na Áustria, Thomas Ender tornou-se muito conhecido como pintor de paisagens e trabalhou como professor na Academia de Artes Plásticas de Viena. Ele morreu em setembro de 1875, aos 81 anos de idade. Porém, continua vivo em seus trabalhos, que agora retornam ao seu local de origem: o Brasil.

Exposição Thomas Ender (1817-1818)
O encontro com uma nova luz – um olhar austríaco sobre o Brasil
Caixa Cultural
Av. Almirante Barroso, 25, Centro, Rio de Janeiro/RJ.
Tel.: (21) 2544-4080 /7666.
De terça a domingo, das 10h às 22h.
Grátis!