Abolicionistas negros, quais você conhece?

Abolir é anular, extinguir, colocar um ponto final. Logo, abolicionistas são pessoas que desejam colocar um ponto final em alguma coisa ou em alguma história, concorda? A história do Brasil é marcada por um movimento abolicionista muito importante: o da escravatura. Sempre ouvimos falar que quem aboliu o trabalho escravo foi a Princesa Isabel, ao assinar a Lei Áurea. Mas é importante saber que o fim da escravidão é resultado da insatisfação e da luta dos próprios negros escravizados e de seus descendentes. E quem fala sobre esses personagens? A CHC! Que foi buscar um pouquinho da história de alguns deles para contar a você!

Ilustração Mariana Massarani

Estevão Roberto da Silva

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1844. Pelos poucos registros existentes, seu pai e sua mãe eram africanos, trazidos para o Brasil como escravos. Estevão foi professor do Liceu de Artes e Ofícios no Rio de Janeiro e pintor premiado. Também foi presidente da Sociedade Cooperativa da Raça Negra, uma organização fundada em 8 de abril de 1888, por um grupo de 15 homens negros. Pensando no que ia ser da vida dos ex-escravos depois da abolição, a organização anunciava ter planos para combater o desemprego, promover a educação (a maior parte da população negra não sabia ler), entre outros direitos e benefícios para os libertos.

José do Patrocínio

Ele nasceu no Rio de Janeiro, em 1853. Foi jornalista e escritor, membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Era filho de um padre com uma escrava e, desde cedo, testemunhou maus tratos e castigos aos negros escravizados da fazenda onde morava. Essa experiência, certamente, despertou o abolicionista que existia nele. Fundou a Gazeta de Notícias, jornal que defendia a liberdade dos negros, e iniciou, em 1879, uma campanha pela abolição. Fez contato com outros abolicionistas de diferentes estados do Brasil, espalhando a ideia da abolição como fundamental para o desenvolvimento do país.

Maria Firmina dos Reis

Ela nasceu em São Luís, no Maranhão, em 1822. Nos seus documentos há apenas o nome da mãe, Leonor Felipa dos Reis, uma ex-escrava. Do convívio com um primo de sua mãe, que era escritor, Maria Firmina logo se interessou pelas letras. Foi professora e é considerada a primeira escritora brasileira. Publicou várias obras, entre elas o romance Úrsula, em 1859, e o conto A Escrava, em 1887, que denunciava os maus tratos aos escravos e defendia a sua liberdade. Era também compositora, e escreveu o Hino da abolição dos escravos.

Francisco José do Nascimento

No Ceará a libertação dos escravos aconteceu em 1883, antes da oficialização da abolição nacional, que aconteceu em 1888, com a assinatura da Lei Áurea. Um dos responsáveis por essa iniciativa foi Francisco José do Nascimento, nascido em 1839, na cidade cearense de Canoa Quebrada. Francisco era jangadeiro, um homem do mar, que impediu o tráfico de escravos no litoral da sua cidade. Por liderar o movimento abolicionista entre seus colegas de profissão, ganhou o apelido de Dragão do Mar. Outro apelido de Francisco era Chico da Matilde, em referência à sua mãe Matilde Maria da Conceição, negra, que trabalhava como rendeira. Seu pai era um pescador português que morreu quando Francisco era ainda criança.

André Rebouças

André Rebouças nasceu em 1838, era baiano, da cidade de Cachoeira. Filho de um homem negro, um advogado de grande prestígio na época, André teve oportunidade de estudar em bons colégios. Quando a família se mudou para o Rio de Janeiro, capital do Império, ele se formou em Ciência Físicas e Matemática. A partir de 1880, tornou-se apoiador da causa abolicionista e participou da criação de várias organizações antiescravistas. Foi autor do projeto Docas Dom Pedro II, em 1871, e no contrato para realizar a obra colocou como condição que nessa construção não se utilizasse trabalhadores escravizados.
Além disso, ele era a favor dos imigrantes, que chegavam de fora do Brasil para trabalhar nas lavouras, mas tinham tratamento desigual, recebendo apenas o suficiente para não morrer de fome.

Adelina, a charuteira

Adelina nasceu no Maranhão, em 1859. Era filha de um branco, senhor de escravos, e de uma escrava. O apelido de charuteira ela ganhou quando começou ajudar o pai na venda de charutos pela cidade. Boa vendedora, Adelina conhecia muita gente, o que facilitou seu trabalho a favor da liberdade dos negros escravizados. Vendia seus charutos para estudantes abolicionistas e, com isso, ajudou a criar o Clube dos Mortos, um grupo de pessoas que facilitava a fuga dos escravos.

Fotos Wikipédia/Ilustrações Nato Gomes

Luís Gama

Luís Gonzaga da Gama foi escritor e usava outros nomes – Getúlio e Barrabaz – para escrever sobre a liberdade dos escravos. Ele nasceu em 1830. Filho de Luísa Mahin, negra africana livre, envolvida em revoltas de africanos na cidade de Salvador, e de um português, Luís Gama foi vendido como escravo pelo próprio pai. Na casa em que foi trabalhar como escravo, era encarregado dos serviços domésticos, onde teve os primeiros contatos com a leitura, até fugir de seus “senhores”, aos 17 anos. Mais tarde, conseguiu documentos que provavam que sua mãe era livre, por isso, pelas leis da época, ele não poderia ser considerado um cativo, isto é, um escravo. Em 1859, publicou Primeiras provas burlescas, livro em que tratava do preconceito de cor na sociedade brasileira. Luís se formou em Direito e trabalhou como advogado, defendendo negros escravizados gratuitamente. Foi responsável por mais de 500 alforrias, documento que provava a liberdade de uma pessoa escravizada.

Cathia Abreu,
Instituto Ciência Hoje

Monica Lima,
Laboratório de Estudos Africanos,
Instituto de História,
Universidade federal do Rio de Janeiro

Matéria publicada em 24.05.2019

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