O carnaval é uma festa que existe há mais de mil anos! Ela acontece nos três dias anteriores à Quarta-Feira de Cinzas, uma data do calendário da igreja católica que marca o início da quaresma, que, por sua vez, é um período de 40 dias que antecede o Domingo de Páscoa. Por isso, o carnaval é uma festa sem data fixa.
Como todas as festas e manifestações culturais, o carnaval se modificou ao longo dos séculos: as práticas (maneiras de brincar o carnaval), fantasias, músicas e danças que têm essa festa como propósito mudaram de acordo com o período histórico e com o comportamento das pessoas e grupos sociais que integram cada um desses períodos.
Pois é, o carnaval está em constante transformação, sempre acompanhando a história da sociedade.
A sociedade brasileira é marcada por uma história de colonização (tivemos o nosso território e os povos indígenas explorados por portugueses e outros povos europeus), escravidão (africanos foram trazidos para cá contra a própria vontade e desrespeitados como seres humanos) e desigualdades (diferenças absurdas entre ricos e pobres, entre homens e mulheres, entre negros, brancos, índios…). Mas, ao mesmo tempo, os grupos oprimidos nunca deixaram de lutar por seus direitos, ou seja, sempre ofereceram resistência. E o carnaval brasileiro acaba sendo também marcado por essas histórias de luta.
A festa foi e é um momento de organização coletiva, de formação de alianças e identidades, de alegria e lazer. Ao longo do século 19, o carnaval ganhou destaque em muitas cidades do país, principalmente nas cidades do Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Nessas capitais, seguem vivas muitas tradições trazidas pelos povos africanos e seus descendentes. Veja só…
Blocos, ranchos, cordões, zé-pereiras marcaram o carnaval das ruas até meados do século 20. Havia grupos musicais percussivos (de batucar) ou com instrumentos de corda e sopro, fantasias, confetes, bisnagas d’água e muita música e humor. Esses grupos eram diversos, como a sociedade da então capital do país. Tocavam marchinhas, maxixes, lundus e sambas em seus cortejos.
A partir dos anos 1920, surgiriam outras agremiações na cidade, originadas também de músicos, trabalhadores e trabalhadoras urbanas (em sua maioria, negros e negras), que criaram o que seria conhecido como escolas de samba. Então, um conjunto de tradições afro-brasileiras deu origem a uma nova forma de fazer samba e carnaval.
Na capital baiana e em tantas outras cidades do entorno da Baía de Todos os Santos (região conhecida como Recôncavo Baiano), desde o Brasil imperial, já existiam os blocos de caretas (pessoas com máscaras) e festas animadas por ritmos diferenciados de samba, como o samba de roda e o samba chula. Ao final do século 19, ganharam popularidade os afoxés, grupos percussivos comumente ligados às casas de candomblé (religião de origem africana), que levavam a cadência dos ijexás (músicas para os
orixás do candomblé) ao cortejo carnavalesco. Ainda hoje, o mais famoso afoxé da cidade é o Filhos de Gandhy, fundado em 1949.
Ao longo do século 20, os baianos Dodô e Osmar eletrificaram o carnaval com a criação do trio elétrico – uma espécie de caminhão de som em que os artistas se apresentam sobre ele. Nos anos 1970, surgiram os Blocos Afro como Ilê Aiyê, Malê Debalê e Olodum, entre outros, trazendo à tona toda força da cultura negra da Bahia e suas ligações com a África. Ao mesmo tempo, os variados grupos desenvolveram gêneros musicais como o samba-reggae e o axé.
De origem afro-brasileira, os maracatus – movimento cultural que envolve música, dança e muita história – desfilam pelas ruas da capital pernambucana desde o século 19, levados principalmente pelo som de tambores chamados alfaias.
O frevo, gênero musical que misturou marchinhas, maxixes e elementos da capoeira, anima os grandes blocos de rua, como o Galo da Madrugada e os cortejos dos bonecos gigantes de Olinda, cidade vizinha.
Para citar as mais diferentes formas de brincar o carnaval pelo Brasil, precisaríamos de um livro! Nele, entrariam elementos da cultura indígena brasileira e outras práticas que “migraram” para o período do carnaval, como os ranchos da Folia de Reis. Incluiria desde o carnaval de Parintins, na Amazônia, com a disputa entre os bois Garantido e Caprichoso, aos cordões de Bumba-meu-boi, em São Luís do Maranhão. Poderíamos ainda passar pelas escolas de samba paulistas, visitar os bailes de máscara em salões fechados, apresentar blocos de rua que tocam rock em ritmo de samba, além de outros gêneros musicais, como o “brega”. Mas o texto precisa terminar, não é? Que pena!
Para finalizar, podemos dizer que os carnavais do Brasil são muitos e se transformaram ao longo do tempo. As mudanças foram criadas a partir das experiências sociais, escolhas e desejos das milhares de pessoas que brincam o carnaval. Por isso, os carnavais são diferentes em cada região e época. A festa também reflete as relações e tensões entre essas histórias. O que se mantém igual é o desejo de liberdade e diversão, o direito de brincar como e com quem quiser. Olha o bloco!
Se você não vê a hora de brincar o carnaval, prepare o seu confete! É isso mesmo! Este é um convite para você produzir confetes biodegradáveis e se esbaldar na folia sem agredir o meio ambiente.
O primeiro passo é recolher folhas secas de várias tonalidades, sempre catando as que caem do chão, não há necessidade de arrancá-las. Depois, tente conseguir um furador de papel – tem sempre alguém na família, na secretaria da escola ou um vizinho que guarda um desses. Se você puder comprar, as papelarias vendem furadores de papel com diversos formatos. Tudo em mãos? Hora de colocar as suas folhas no furador e produzir a quantidade de confetes que você desejar! Qual a vantagem? Por serem feitos de folhas, material orgânico, eles não levam muito tempo para desaparecer na natureza. Viva o carnaval e o cuidado com o meio ambiente também
Eric Brasil
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Matéria publicada em 24.01.2023
murilo
não gostei falto muitas regiões