(…)
Com seus olhos semiabertos
para a luz, bico empinado,
Urutau falou, de um galho,
dormindo meio acordado:
– Essa briga é porque o mundo
está desorganizado.
– Cada qual com seu papel!
Todos têm o seu valor!
Todos são nobres e sábios.
É bonita toda cor!
Não existe tolerância
quando não existe amor.
– Organizando a bagunça:
Buriti pra canindé,
pro pica-pau: bocaiuva;
angico pro caburé.
E pra grande ararauna,
manduvi será chalé.
– E se o tronco for o mesmo
disputado por vocês
numa mesma primavera,
é preciso sensatez.
Se não chegou a sua hora,
então, que espere a sua vez.
– Vem, primeiro, o pica-pau;
Em seguida o tronco ampara
a nobre maracanã…
Tantos caberão, tomara:
o tucano, o urubu
e, por fim, a grande arara.
– Há lugar para todo mundo:
branco, preto, azul, dourado…
Sempre haverá um cantinho
No ambiente equilibrado.
Há lugar quando, pra todos,
direitos são respeitados.
Vendo enfim, que a boba briga
encontrou um bom final,
o tal “pássaro-fantasma”
dos índios, o urutau,
voltou a dormir, esguio,
disfarçando-se de…
pau.
*Paulo Robson de Souza é biólogo, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e mantém com muito entusiasmo a atividade de escrever contos e poemas. O Urutau é um trecho do cordel Os Reis do Pedaço, publicado no livro Poesia Animal, da Editora UFMS. Para ler este e outros versos, visite O Caçuá do Paulo Robson
Matéria publicada em 11.10.2018
Anna Elise
Achei a poesia muito bonita!
Felipe Lorenzo Calvo Barbosa
Gostei do testo, as a poesias são muito boas.gostei de mais