Tem ciência em tudo – até no balé!

O teatro está cheio, as luzes brilham e iluminam todo o cenário. Sobem ao palco as bailarinas. O espetáculo começa e você não acredita nos seus olhos: elas parecem voar!
No dia seguinte, você vai para a sua aula de balé com a decisão a fazer igual, mas mal sai do chão. A professora vê você triste e fala: “Você ainda vai aprender a enganar a gravidade…”. O que ela quis dizer com isso?

Ilustração Mariana Massarani

“Essa menina tão pequenina quer ser bailarina. Não conhece nem dó nem ré, mas sabe ficar na ponta do pé.” Assim falou Cecília Meirelles em seu famoso poema A bailarina. Pode ser que a poeta estivesse certa e, realmente, saber as notas musicais não fizesse muita diferença para a pequena bailarina… Mas será que existe algum outro conhecimento que poderia ajudar essa menina?

A resposta talvez surpreenda, mas é verdade: o conhecimento das leis da física! Isso mesmo que você ouviu, a física pode explicar desde um simples equilíbrio na ponta dos pés até os saltos e giros mais malucos! A física tenta compreender e descrever a natureza. Para isso, explicar o movimento dos corpos (sejam planetas, partículas e até mesmo pessoas) é fundamental.

 

Ciência do movimento

Você já deve ter visto em desenhos animados ou nas histórias em quadrinhos a representação de um moço sentado debaixo de uma árvore e, de repente, ploft!, cai uma maçã na cabeça dele. Essa é uma maneira divertida de contar sobre uma observação científica que ocorreu há algumas centenas de anos. O moço representado nessa história é Isaac Newton, físico inglês que observava o mundo ao seu redor e tentava explicar o movimento das coisas. Ele viveu de 1643 a 1727.

A partir de comparações com o movimento da maçã caindo da árvore, Newton explicou que existe uma força invisível que – de uma forma simples, podemos dizer – a todo tempo puxa tudo para o chão. Atualmente, conhecemos essa força como força da gravidade. Além dessa e de muitas outras descobertas, o cientista também escreveu as ‘leis de Newton’, um conjunto de três leis usadas até hoje para explicar porque os corpos ficam parados e porque eles se movem.

 

Na ponta dos pés

Se você já tentou imitar o Saci-Pererê e ficar em uma perna só, sabe como equilíbrio é uma coisa complicada. Basta tirar um pé do chão que a gente começa a balançar tanto que quase cai. Agora, imagine se, além de tirar o pé do chão, você precisasse encostar o pé na cabeça. Ficou mais difícil, né? Pois é exatamente isso que as bailarinas fazem.

Seja com o pé todo ou apenas a pontinha do pé no chão, a regra para não cair é a mesma: encontrar o ponto de equilíbrio. Mas como? Você precisa saber que todos os corpos possuem um “centro de gravidade”. Quando estamos parados com os dois pés no chão, esse centro fica na região da barriga (veja o desenho). Se tiramos uma das pernas do chão e a colocamos na cabeça, o tal centro de gravidade se desloca um pouquinho para o lado da perna levantada. Para termos um bom equilíbrio, é preciso traçar uma linha reta imaginária entre o centro de gravidade e a parte do pé que está em contato com o chão, como a bailarina da foto! Por isso, quando tiramos um dos pés do chão, precisamos ajeitar todo o corpo!

Ilustração Marina Vasconcelos
A bailarina consegue o equilíbrio alinhando seu centro de gravidade com a ponta da sapatilha.
Foto Peter Ilicciev/Bailarina Anoushka Zoé/ Centro de Movimento Deborah Colker

Ao alto e avante

Sabe quando cai aquela chuva que deixa poças de água enormes sobre o chão? Para aprender a saltar as poças, evitando molhar os pés depois de um temporal, a melhor solução é pedir ajuda a uma bailarina.

Tanto em aulas quanto em apresentações, bailarinos saltam de mil e uma maneiras diferentes. A variação entre um salto e outro está no planejamento. Antes de sair do chão, a bailarina precisa decidir se deseja voltar para o mesmo lugar depois do pulo, ou se prefere se deslocar pela sala. Uma vez no ar, nada pode ser feito para alterar sua trajetória.

Para entender o porquê dessa charada é preciso conhecer melhor uma das ‘leis de Newton’: a ‘lei da ação e reação’. Segundo essa lei, para um corpo parado entrar em movimento é preciso um ‘empurrãozinho’ de forças que surgem a partir da interação entre diferentes corpos. Vamos ver um exemplo para ficar mais fácil! Ao saltar, o único contato que a bailarina tem com outro corpo vem de sua interação com o chão. Seguindo o princípio da ação e reação, quando a bailarina empurra o chão para baixo, o chão empurra a bailarina para cima. Portanto, se a bailarina quer pular de um lado para outro do palco, ela precisa empurrar o chão para baixo e para trás – o resultado você vê na foto.

Para grandes saltos, é importante empurrar o chão com os pés antes de ir para o ar.
Foto Peter Ilicciev/Bailarina Anoushka Zoé/ Centro de Movimento Deborah Colker

Roda, roda, roda

O jogo do pião de madeira pode ser brincadeira dos seus avós, mas com certeza você já viu um brinquedo parecido. Por mais que o tempo passe, a disputa por quem consegue fazer o pião girar por mais tempo continua sendo divertida.

Sortudas são as bailarinas, que podem esquecer os brinquedos em casa e ainda assim conseguir jogar. Uma, duas, três, quatro, cinco piruetas seguidas! Como essas meninas fazem para rodar tanto na ponta dos pés?!

Depois de soltar o pião, você pode apenas torcer para ele não bambear. A situação para a bailarina é bem parecida, já que a parte mais importante do giro é a preparação. Isso acontece porque, assim como nos saltos, o chão é quem dá o empurrão na direção do movimento. A diferença é que, ao rodar, a bailarina precisa usar os dois pés para empurrar o chão em direções opostas, criando um “torque”, isto é, a torção que gera as rotações. Além dos pés, os braços também são essenciais para as piruetas. O motivo? A velocidade do giro vai depender da distância entre todas as partes de seu corpo e uma linha reta (imaginária!) que sai do ponto no chão onde ela gira. Ao trazer os braços para perto do corpo, a bailarina roda mais rápido!

A preparação para a pirueta vai determinar um bom giro. Abrir e fechar os braços é essencial!
Foto Peter Ilicciev/Bailarina Anoushka Zoé/ Centro de Movimento Deborah Colker

Magia da dança

E aquilo que a professora falou sobre enganar a gravidade? Apesar de os bailarinos se esforçarem para criar a ilusão de estarem desafiando as leis da natureza, a física está sempre presente no movimento. O balé é como um show de mágica. Sabemos que é impossível o mágico ter cortado sua assistente ao meio, mas ele consegue enganar a audiência. Com a ajuda da varinha mágica da ciência, a bailarina nos faz acreditar ser possível voar.

Carolina  Andries Gigliotti
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Física,
Instituto de Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Matéria publicada em 17.07.2019

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