Aves em boa forma

O gavião-caboclo (Buteogallus meridionalis) é uma das aves que recebem treinamento no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi (fotos: Pedro Henrique Cruz).

Já ouviu falar em falcoaria? Esse é o nome de uma técnica muito antiga, usada para adestrar aves de rapina, como corujas, falcões, águias e gaviões. Além de tornar esses animais excelentes caçadores, a falcoaria ainda pode ajudá-los a se recuperar de doenças e de lesões, entre vários outros benefícios. Por isso, tem sido usada em aves que vivem no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi.

“O animal que passa por esse treinamento fica menos estressado e mais tolerante à presença humana. Até as penas ganham mais brilho!”, conta o estudante de biologia Marcos Cruz, que atualmente usa a falcoaria para treinar, em parceria com o também futuro biólogo Felipe Furtado e com a estudante de veterinária Carmen Pereira, um gavião-caboclo e duas corujas no Pará.

O gavião tem o que se chama de hipocalcemia: a falta de cálcio no sangue, doença provavelmente provocada pela alimentação inadequada nos primeiros meses de vida, quando a ave viveu em cativeiro ilegal. Já as corujas — uma delas chamada Buba — não possuem problemas de saúde, mas chegaram ao Parque Zoobotânico aos três meses de vida. Com tão pouca idade, dificilmente sobreviveriam sozinhas na natureza, já que não sabiam caçar. Algo que a falcoaria pode ensinar, assim como trazer outros benefícios.

O estudante de biologia Marcos Cruz e a coruja murucututu conhecida como Buba

Quantos exercícios!

Por funcionar como uma ginástica para aves — ao exercitar todos os músculos do animal —, a técnica ajuda na recuperação de doenças e lesões, além de auxiliar no controle de peso, evitando que aves que vivem em cativeiro se tornem obesas.

O treinamento é feito em cinco etapas. Na primeira, o adestrador — também chamado de falcoeiro — leva alimento, em uma luva, diretamente ao bico do animal. Depois, a ave precisa voar até o falcoeiro para pegar a comida. A seguir, uma isca feita de couro e que imita um bicho de verdade é apresentada, o que estimula os instintos de caça e desenvolve os movimentos da ave. Nas duas últimas etapas, o bicho caça uma presa real. Em geral, as aves de rapina gostam de se alimentar de insetos, ratos, lagartos, serpentes, aves e anfíbios.

Não há um prazo determinado para o fim do treinamento, pois cada animal tem seu próprio tempo de recuperação. No entanto, o esforço é grande. Para você ter uma ideia, o gavião e as duas corujas que estão sendo adestradas atualmente no Museu Paraense Emílio Goeldi chegam a dar entre 30 e 50 voos por treino!

Preconceito, não!

Mas você sabia que, além de fazer bem aos animais, a falcoaria ainda pode ser educativa? “Alguns treinamentos são feitos perto dos visitantes. Assim, os falcoeiros têm a chance de passar informações sobre as aves de rapina e contribuir para o fim do preconceito em relação a elas”, explica Marcos Cruz, lembrando que muitas pessoas maltratam injustamente corujas por causa da crença popular de que o seu canto é sinal de mau agouro. “As corujas urbanas, porém, ajudam a controlar pragas como ratos e pombos”, explica o estudante de biologia. Eis aí uma boa razão para garantir a saúde de aves de rapina como essa, você não acha?