Bate-papo com o escritor

Formado em medicina, Roberto Lent é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde comanda um laboratório de pesquisa e estuda uma região do cérebro chamada córtex cerebral, responsável pelos nossos pensamentos, nossas emoções, nossa memória, nossos movimentos e muitas outras coisas. Neste bate-papo com a CHC, ele conta como surgiu a idéia de fazer um livro para crianças e seus planos nesta nova aventura como escritor.


Como surgiu a idéia do livro?
Uma vez, fiz uma palestra para crianças de uma escola da periferia de São Paulo. Falei durante 30 minutos sobre as células nervosas. Células nervosas aqui, células nervosas ali… Ao final, um menino me perguntou: “Tio, existem células calmas?” Ele tinha entendido que a expressão “célula nervosa” queria dizer “célula agitada”! A partir daquele momento, concluí que era preciso fazer a ciência chegar às crianças. A série Aventuras de um neurônio lembrador, que começa agora com O neurônio apaixonado, é uma tentativa nessa direção.

É difícil para um cientista escrever para crianças?
É. Eu já sou meio velhinho, tenho 55 anos: captar o interesse e ser entendido pelas crianças é difícil porque a gente tem que aprender um modo de falar diferente dos adultos, com outras gírias, outras expressões. Meus filhos já estão com 20 anos e ainda não tenho netos… Minha opção foi buscar ajuda de gente que sabe escrever para crianças, como Rosa Amanda Strausz, autora de muitos livros infantis. Ela criticou as primeiras versões que escrevi e contribuiu muito para aprimorá-las.

Você contou com a ajuda de outras pessoas para aprontar o livro?
Além de Rosa Amanda, o livro contou com a ilustração de Flavio DeAlmeida, um craque que faz desenhos engraçados, bonitos e bem coloridos. Também a presença da neurocientista Eliane Volchan no final do livro permitiu passar ao leitor uma percepção de realidade, além da aventura dos neurônios, que é de brincadeira. E, obviamente, a editora Vieira&Lent me deu todo o suporte necessário.

Você pensa em escrever outros livros?
Bem, este é apenas o primeiro da série. Os outros já estão escritos, em processo de produção. O neurônio apaixonado conta a história de um neurônio das emoções. Mas vêm aí a do neurônio auditivo, a do visual, a do neurônio motor, e, no final, a do neurônio da memória.

Na infância, o que você queria ser quando crescesse?
Queria ser ofidiólogo, um especialista em serpentes. Ainda bem que desisti, é uma profissão meio perigosa… Quando fiz vestibular, no entanto, minha intenção era fazer medicina e… cinema! Bravatas de adolescente, é claro. Meu plano era cursar a recém-criada Universidade de Brasília. Mas, na época, muitos professores foram demitidos ou saíram de lá. Então, decidi estudar na Universidade Federal do Rio de Janeiro, que não tinha curso de cinema e… deu no que deu: virei cientista!