É um espetáculo da natureza: todos os anos, durante o outono, milhares de borboletas da espécie Danaus plexippus saem dos Estados Unidos e do Canadá e voam em direção ao México, onde gostam de passar o inverno. Essa jornada costuma levar vários meses e nenhuma outra espécie de inseto percorre tão longas distâncias. Popularmente conhecidas como borboletas-monarca, elas batem suas asas ao longo de uma distância de mais de 3,2 mil quilômetros.
Mas você há de se perguntar como é que a borboleta-monarca sabe direitinho que caminho seguir em uma viagem tão longa. Pois saiba que cientistas estudiosos desses insetos descobriram que eles têm um sofisticado sistema de navegação, que funciona como um GPS biológico.
“As borboletas-monarca guiam-se pelo Sol”, diz o biólogo e coautor da pesquisa Patrick Guerra, do Departamento de Neurobiologia da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos. “Elas têm uma espécie de bússola solar e, de acordo com a posição do astro, sabem a direção que devem seguir.” Acontece que o Sol nasce no Leste e se põe no Oeste, mudando de posição a cada instante ao longo do dia. Como, então, as borboletas não se confundem?
De acordo com Patrick, elas têm um tipo de relógio biológico interno que os cientistas chamam de ciclo circadiano. As informações desse reloginho, somadas às informações que têm quanto à posição do Sol, permite que as borboletas saibam onde é o Norte, o Sul, o Leste ou o Oeste e descubram para onde voar.
“Nossos estudos atuais sugerem que a bússola solar fica na parte central do cérebro da borboleta, enquanto o relógio circadiano interno fica localizado nas antenas”, detalha o biólogo.
Orientação em dias nublados
Mesmo com tantas descobertas sobre as borboletas, havia mais um detalhe que intrigava os cientistas. “É que muitas observações já mostraram que, ainda que dependam do Sol, as borboletas-monarca conseguem se orientar mesmo em dias nublados, com o céu totalmente coberto de nuvens”, conta Patrick. Ninguém compreendia esse mistério, mas, com um pouco mais de pesquisa, os cientistas já têm uma resposta.
“Descobrimos que, além da bússola solar, esses insetos têm também um interessante sistema de orientação adicional, que é baseado no campo magnético da Terra”, afirma Patrick. “O campo magnético é uma força invisível, que acreditamos ser originada pelo movimento do metal derretido no interior da Terra”.
O movimento do metal cria correntes elétricas que geram um campo magnético ao redor de nosso planeta. E, quem diria, as borboletas-monarca – assim como alguns pássaros e tartarugas – usam esse campo energético para sua orientação geográfica.
“Não é de hoje que os insetos vêm nos surpreendendo com as mais diversas estratégias evolutivas em busca de sobrevivência”, diz a bióloga Raquel Sanzovo, da Universidade Estadual Paulista. “Quando falamos em migração, nenhum inseto é tão famoso como as borboletas-monarca, que percorrem milhares de quilômetros em busca de temperaturas mais amenas; e a existência de um mecanismo magnético de orientação, capaz de driblar condições ambientais, torna esse fato ainda mais magnífico!”