Você já deve ter ouvido alguém dizer que tamanho não é documento. Mas será que isso também vale quando o assunto é o tamanho do cérebro? O elefante, por exemplo, tem um cérebro enorme. Por que então ele não é considerado mais inteligente do que o ser humano?
Essa foi a pergunta feita pelo pessoal do Laboratório de Neuroanatomia Comparada (NaCo), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Há mais de dez anos eles pesquisam os mistérios do cérebro e, em 2012, resolveram estudar o cérebro do elefante.
Antigamente, os cientistas pensavam que o elefante não era mais inteligente do que o humano porque seu cérebro, apesar de maior, é relativamente pequeno em comparação com o corpo.
Isso porque o cérebro humano tem 2% do tamanho do corpo – ou seja, se dividíssemos o corpo humano em mil partes, o cérebro equivaleria a vinte dessas partes. Já o do elefante tem apenas 0.1%, o que significa dizer que, caso dividíssemos o corpo do elefante em mil pedaços, o cérebro do elefante teria tamanho equivalente a apenas um desses pedaços.
A suspeita da equipe do NaCo, no entanto, era outra. Eles acreditavam que o elefante não era mais inteligente do que nós porque seu cérebro não teria tantos neurônios — células responsáveis por funções como raciocínio e aprendizado – quanto o humano. Mas a equipe da UFRJ logo descobriu que, na verdade, o cérebro do elefante tem até mais neurônios do que o do ser humano: são cerca de 257 bilhões contra os apenas 86 bilhões presentes no cérebro do homem.
Com essa informação, os pesquisadores ficaram intrigados. Já que os elefantes têm mais neurônios, por que será que nós temos um raciocínio mais desenvolvido? Será que o elefante é mais inteligente e estava escondendo o jogo o tempo todo?
Para a decepção dos admiradores de elefantes, a resposta é não. “Nós observamos que, apesar desse número enorme de neurônios, 98% deles se localizam no cerebelo do elefante, uma estrutura do cérebro que é responsável pelo equilíbrio e pela integração entre sentidos e movimento”, diz a neurocientista e coordenadora do projeto Suzana Herculano-Houzel. “Apenas 2% dos neurônios do elefante ficam no córtex, a região cerebral que cuida da aquisição de conhecimento”.
Pensando bem, isso tudo faz sentido! Elefantes têm algo que nenhum outro animal tem: uma tromba enorme, mas capaz de movimentos finos e delicados, o que deve exigir um cerebelo com um número muito maior de neurônios.
Com isso, os pesquisadores perceberam que, mesmo que o elefante tenha um cérebro três vezes maior que o nosso, o córtex humano tem três vezes mais neurônios do que o córtex do elefante: 16 bilhões, contra pouco mais de 5 bilhões no elefante.
Mesmo assim, não duvide da capacidade dos elefantes, pois, comparados a outros animais, eles têm uma quantidade considerável de neurônios no córtex. “Nossos estudos mostraram que, quando o assunto é o número de neurônios nessa região do cérebro, os elefantes só ficam atrás dos gorilas e dos orangotangos”, conta Suzana. E, é claro, do ser humano.
A neurocientista disse à CHC Online que o próximo passo da pesquisa é estudar o cérebro das baleias e dos golfinhos. São animais que também têm cérebros maiores que o nosso. Será que eles são mais inteligentes que os elefantes?