Cheiro de flor, de terra molhada, de chocolate, de café: tudo isso você já sentiu. Mas e de cometa? Aposto que não! Afinal, ninguém nunca soube qual era o cheiro desse corpo celeste – pelo menos, até agora. Isso por que a sonda Rosetta, que lançou um robô para pousar pela primeira vez na superfície do cometa Churyumov-Gerasimenko, acaba de registrar o aroma. Mas a descoberta não é muito cheirosa: o cometa tem perfume de ovos podres.
E como será que a Rosetta conseguiu identificar isso? A física Kathrin Altwegg, da Universidade de Berna, na Suíça, e uma das responsáveis pela missão, explica que a identificação do cheiro foi feita com um equipamento chamado espectrômetro de massa, que serve para reconhecer moléculas. “Nosso instrumento a bordo da Rosetta conseguiu detectar quais tipos de moléculas estão presentes na atmosfera do cometa”, conta.
A partir da análise dessas moléculas, é possível concluir quais cheiros o cometa emite. “Rosetta identificou a presença de enxofre, que cheira como ovos podres, por exemplo, além de amônia, metanol e cianeto, que juntos cheiram a uma esquisita mistura de cavalos, amêndoas, álcool e vinagre”, destaca Kathrin. “Detectamos também ingredientes sem cheiro, como água, monóxido de carbono, fora outras moléculas orgânicas.” Dá pra imaginar tudo isso junto? Que mistura!
Pistas sobre a origem da vida
Conhecer o cheiro do cometa, no entanto, não serve só para matar a curiosidade. “O estudo da composição desses corpos celestes pode ajudar a equipe a chegar a diversas outras conclusões”, diz Kathrin. Para a pesquisadora, essa missão pode revelar muito, por exemplo, sobre a formação do nosso Sistema Solar.
“Estudar os cometas pode dizer a importância deles para o passado da Terra, se eles podem ter trazido a água para o nosso planeta e qual o papel que podem ter desempenhado na evolução da vida por aqui”, pondera. ”Eles podem ajudar a saciar a curiosidade humana sobre nossas origens e a avaliar se o processo que gerou vida aqui pode ter se repetido em outras partes do Universo”.
Mas não pense que esse será um processo fácil, pois os grandes mistérios que a Rosetta busca desvendar sem dúvida ainda exigirão muitos anos de pesquisa. “Só para se ter uma ideia, não podemos sequer falar com muita profundidade sobre os dados coletados pela Rosetta ainda, será preciso esperar algumas semanas para que eles sejam estudados com mais profundidade – e isso é só o começo”, avisa Kathrin. Até lá, só nos resta conter a ansiedade e aguardar pelos próximos capítulos!