A paisagem das confusões

O Brasil, com seu enorme território, possui as mais variadas e belas paisagens. Uma das mais surpreendentes delas fica no sertão do estado do Piauí e está protegida pelo Parque Nacional da Serra das Confusões.

São curiosas as formações rochosas do Parque Nacional da Serra das Confusões. (foto: Vinícius São Pedro)

São curiosas as formações rochosas do Parque Nacional da Serra das Confusões. (foto: Vinícius São Pedro)

Em uma vasta região onde a caatinga se encontra com o cerrado, curiosas formações rochosas fazem o sertão parecer um cenário de outro planeta. Neste ambiente, as enormes rochas arredondadas, que se formaram há cerca de 400 milhões de anos, compõem uma paisagem exclusiva daquela região. Devido a seu formato e composição mineral, essas rochas parecem mudar de cor ao longo do dia, conforme muda a inclinação dos raios solares sobre elas. Segundo contam os moradores locais, essa mudança de cor das pedras causava confusão visual nos antigos viajantes que andavam por aquela região, fazendo com que muitos se perdessem pelo caminho. Daí o nome Serra das Confusões!

Na Serra das Confusões, encontramos enormes rochas arredondadas, que se formaram há cerca de 400 milhões de anos. (foto: Vinícius São Pedro)

Na Serra das Confusões, encontramos enormes rochas arredondadas, que se formaram há cerca de 400 milhões de anos. (foto: Vinícius São Pedro)

Embora se encontre no meio do caminho entre dois dos principais rios do nordeste – o Parnaíba e o São Francisco –, a água é escassa naquela região. No verão, praticamente todos os riachos e lagoas secam por completo, e a temperatura durante o dia pode chegar aos 45 graus. Que calor! Mas, mesmo numa paisagem tão diferente, a natureza não deixa de nos surpreender. O Parque Nacional da Serra das Confusões é o lar de fauna e flora incrivelmente ricas.

Entre as espécies de plantas descobertas recentemente pela ciência na Serra das Confusões estão o pau-terra (i)Qualea insignis(/i) (figura A) e a minúscula sempre-viva (i)Paepalanthus magistrae(/i) (figura B). (foto A: Gustavo Shimizu; foto B:Revista Rodriguésia – CC BY 4.0)

Entre as espécies de plantas descobertas recentemente pela ciência na Serra das Confusões estão o pau-terra (i)Qualea insignis(/i) (figura A) e a minúscula sempre-viva (i)Paepalanthus magistrae(/i) (figura B). (foto A: Gustavo Shimizu; foto B:Revista Rodriguésia – CC BY 4.0)

Populações abundantes de tatus, cutias, queixadas, tamanduás, macacos e veados, por exemplo, podem ser encontradas no parque. E, com um “cardápio” tão generoso de presas, não é de se espantar que também vivam ali onças-pardas e onças-pintadas. No lugar, também é possível encontrar a maior riqueza conhecida de aves da caatinga, com 225 espécies, sendo algumas ameaçadas, como a jacucaca, a araponga-do-nordeste e o arapaçu-do-nordeste, além de muitas outras típicas daquele bioma. Além disso, entre as 50 espécies de répteis encontradas no parque, há pelo menos dois lagartos endêmicos, ou seja, que não são encontrados em nenhum outro local.

Um dos animais encontrados apenas na região da Serra das Confusões é esse lagarto-escrivão ((i)Calyptommatus confusionibus(/i)), que não tem patas e recebe esse nome porque, ao rastejar pela superfície arenosa, forma desenhos que lembram rabiscos por onde passa. (foto: Willianilson Pessoa)

Um dos animais encontrados apenas na região da Serra das Confusões é esse lagarto-escrivão ((i)Calyptommatus confusionibus(/i)), que não tem patas e recebe esse nome porque, ao rastejar pela superfície arenosa, forma desenhos que lembram rabiscos por onde passa. (foto: Willianilson Pessoa)

O Parque Nacional da Serra das Confusões é o maior parque do nordeste e um dos maiores do Brasil, mas ainda há muito o que se descobrir sobre este local. Para se ter uma ideia, as pesquisas realizadas no parque nos últimos 20 anos possibilitaram a descoberta de diversas espécies que até então eram desconhecidas pela ciência, incluindo lagartos, cágados, morcegos, fungos e plantas. Sem contar as muitas cavernas e sítios arqueológicos da região ainda praticamente inexplorados. Isso quer dizer que os cientistas ainda terão boas confusões para desvendar pela frente!