Nada se movia. A manhã fria de junho convidava a permanecer quieto embaixo do cobertor sem vontade alguma de iniciar o dia. Porém, um galo cacarejava e insistia em me lembrar de que, se não me levantasse, chegaria atrasado à primeira aula do dia. Esses dias eram arrastados, intermináveis e estranhos. Apenas um minuto de atraso e não podíamos entrar no colégio. Se o sapato estivesse sujo do barro que abundava pelas ruas, também não podíamos entrar, o que evidentemente nos obrigava a ter dois sapatos: um para caminhar na rua, e o outro, para entrar no colégio. E a meia? Havia um fiscal de meias! Se ela estivesse desbotada não podíamos nem passar da porta. Porém, o mais esquisito era a hora do recreio: ficávamos todos alinhados no pátio, em pé, separados regularmente uns dos outros como numa parada militar. Surpreendentemente, mesmo assim estávamos sempre na escola, ávidos pelos novos mundos que nossos professores nos apresentavam.
Entretanto, naquele dia, havia algo estranho, pois com exceção do cacarejo do galo, o silêncio era maior. Levantei-me, organizei-me rapidamente, e saí. O dia amanheceu cinzento, enevoado e pouco se enxergava a alguns passos mais à frente. Havia um desolamento no ar pela falta da luz e de cor e o silêncio entristecia as ruas ainda vazias.
Um mundo em tons de cinza, enevoado, e sem a possibilidade de se enxergar o azul do céu, é algo muito desagradável. Imagine agora se toda a Terra fosse sempre desta maneira. Se voltarmos aos momentos iniciais da história de nosso planeta, este seria o cenário.
Nem sempre houve o azul do céu: essa cor resulta da abundância de oxigênio existente no ar. No início da história da Terra, a atmosfera era muito diferente da atual, e os gases que nela existiam eram principalmente o metano, enxofre, nitrogênio, amônia, gás carbônico e vapor d’água – uma combinação muito tóxica para os seres vivos que hoje existem. A atmosfera permaneceu assim por centenas e centenas de milhões de anos, mergulhada num céu cinza escuro e enevoado, constantemente iluminado por raios, no qual ecoavam os sons de trovões e grandes vulcões.
Há 3,8 bilhões de anos, porém, este cenário começou a se transformar. O surgimento de pequenos organismos, conhecidos como cianobactérias, produziria, como resultado da fotossíntese, um novo gás – o oxigênio –, que transformaria a atmosfera de nosso planeta para sempre. Foram necessários mais um bilhão de anos até que a produção de oxigênio pelas cianobactérias fosse abundante o suficiente para clarear e iluminar o azul de nossos céus e abrir um universo de novas possibilidades para a evolução da vida.
Para mim, naquela manhã fria de junho, o céu clareou e se iluminou com um forte azul mais cedo do que eu imaginava. Ao chegar ao colégio, o silêncio permanecia. Demorei a entender o que se passava. Entendi então que não era nem o início, nem o fim de nada especial, mas apenas a manhã de um domingo. Um domingo de muito sol, luz e um azul do céu que anunciavam, como no princípio da vida, um mundo, ou pelo menos um dia, de possibilidades sem início ou sem fim.