Pescar era uma das nossas diversões quando eu e meus primos visitávamos a fazenda de meus avós nas férias. Com varas de bambu e uma lata cheia de minhocas em mãos, seguíamos em direção a um pequeno córrego onde passávamos algumas horas testando a paciência em busca de alguns peixinhos, até que a última isca fosse para o anzol.
![Nem mesmo os especialistas sabem ao certo como surgiu a palavra “minhoca”. Uma das possibilidades é que seja uma modificação de “nyoka” ou “nhoka”, que, na língua Quimbundo – falada por muitos escravos africanos que foram trazidos para o Brasil –, significa “cobra”. A única certeza é que “açu” ou “uçu” quer dizer “grande” em tupi, e, portanto, minhocuçu significa “minhoca grande”. Em inglês, fica mais fácil: as minhocas são chamadas de “earthworm”, cujo significado é “verme da terra”. (Foto: Daves Portfolio / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)](http://chc.org.br/wp-content/uploads/2013/06/fig.1-cc-by-nc-nd-2.0.jpg)
Nem os especialistas sabem ao certo como surgiu a palavra “minhoca”. Uma das possibilidades é que seja uma modificação de “nyoka” ou “nhoka”, que, na língua Quimbundo – falada por muitos escravos africanos que foram trazidos para o Brasil –, significa “cobra”. A única certeza é que “açu” ou “uçu” quer dizer “grande” em tupi, e, portanto, minhocuçu significa “minhoca grande”. Em inglês, fica mais fácil: as minhocas são chamadas de “earthworm”, cujo significado é “verme da terra”. (Foto: Daves Portfolio / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)
As minhocas que usávamos não mediam mais que nossa mão. Naquela época, eu nem imaginava que pudessem existir algumas espécies mais compridas que minha perna e da espessura de um dedão – os minhocuçus!
São conhecidas no Brasil mais de 50 espécies de minhocuçus, a maioria medindo entre 30 e 50 centímetros de comprimento. A mais famosa delas é Rhinodrilus alatus. Desde muito tempo, a população das áreas onde essa espécie ocorre sabia de sua existência, mas foi só em 1971 que ela foi reconhecida por um especialista e ganhou seu nome científico.
![(i)Rhinodrilus alatus(i) é encontrada apenas em áreas de Cerrado na região central de Minas Gerais, e atinge em média 60 centímetros de comprimento. (Foto: Acervo do Projeto Minhocuçu)](http://chc.org.br/wp-content/uploads/2013/06/fig.2-projeto-minhocucu.jpg)
(i)Rhinodrilus alatus(i) é encontrada apenas em áreas de Cerrado na região central de Minas Gerais e atinge em média 60 centímetros de comprimento. (Foto: Acervo do Projeto Minhocuçu)
Rhinodrilus significa “minhoca com focinho” em grego. O nome é uma referência à extremidade anterior do bicho, chamada prostômio, que é comprida e lembra uma tromba ou um focinho. Já alatus quer “alado” em latim, ou “com asas”. Você pode se perguntar: seria uma minhoca voadora?
Que nada! As minhocas adultas possuem um órgão reprodutivo chamado clitelo. Em Rhinodrilus alatus, ele apresenta duas expansões laterais achatadas, as barbelas, que lembram asas.
![Nestas imagens é possível observar o prostômio e as barbelas, que foram a inspiração para a criação do nome científico (i)Rhinodrilus alatus(i) (Fotos: Acervo do Projeto Minhocuçu)](http://chc.org.br/wp-content/uploads/2013/06/fig.3-projeto-minhocucu.jpg)
Nestas imagens é possível observar o prostômio e as barbelas, que foram a inspiração para a criação do nome científico (i)Rhinodrilus alatus(i) (Fotos: Acervo do Projeto Minhocuçu)
Rhinodrilus alatus não é a única espécie do seu gênero nem foi a primeira a ser descoberta. Em 1918, o zoólogo Wilhelm Michaelsen estudou os pedaços de uma minhoca que havia sido encontrada em Sabará, Minas Gerais, e levada para a Alemanha. O pesquisador concluiu que se tratava de uma nova espécie, que poderia atingir nada menos que dois metros de comprimento, e chamou-a de Rhinodrilus fafner.
A escolha do nome fafner nunca foi explicada, mas pode ter origem em uma famosa lenda da Europa, que conta como o herói Siegfried derrotou um terrível dragão chamado Fafnir – ou Fafner. Algumas versões da história dizem que Fafnir era um dragão de corpo comprido e sem asas, e talvez por isso Michaelsen tenha dado à minhoca gigante do Brasil o nome do monstro mitológico.
Infelizmente, ninguém nunca mais encontrou uma Rhinodrilus fafner na natureza, e lá se vão quase 100 anos. Terá a espécie desaparecido para sempre após a construção de cidades nas regiões onde vivia, como Belo Horizonte?
Por outro lado, as notícias são melhores para Rhinodrilus alatus. Desde 2004, pesquisadores do Projeto Minhocuçu estudam essa espécie e descobriram que ela não está ameaçada de extinção, como se pensava antes. Além disso, o projeto tem auxiliado diversas famílias a coletar os minhocuçus de forma sustentável. Assim, a população de minhocas não é prejudicada e a pescaria continua garantida!
Richard Gellen
Cual sub-especie está presente na eco região da Pampa humida? Tem informaçã a respeito? Obrigado
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Publicado em 22 de janeiro de 2021