O quintal da casa de minha avó Dedé tinha algo de muito especial. Além das árvores frutíferas, que nos presenteavam durante todo o ano com goiabas, mangas, laranjas, frutas-de-conde e abacates, o que mais chamava a atenção era a variedade de folhagens que circundavam árvores, muros e até mesmo as frestas das pedras dos caminhos.
As plantas rasteiras e que estavam por todos os lados eram samambaias de vários tipos, como a do Amazonas, chorona, de metro, americana, renda francesa, prata, chifre-de-veado, azul e paulistinha. Também lá estavam as avencas, como a cabelo-de-anjo e o avencão, que são delicadas e dificílimas de se cultivar. Essas plantas gostam especialmente dos lugares úmidos e bastante sombreados – o quintal de minha avó era um lar perfeito para elas.
Samambaias e avencas pertencem ao grupo das pteridófitas e têm uma longa história, que remonta a mais de 360 milhões de anos. Porém, foi no período geológico conhecido como Carbonífero, há 330 milhões de anos, que elas se diversificaram e passaram a ser bastante semelhantes com as que existem hoje.
Se, nos dias atuais, essas plantas são pequenas e têm distribuição geográfica limitada, no passado, dominaram as paisagens terrestres. Existiam em várias formas e tamanhos, algumas com troncos imponentes – como os ainda viventes samambaiaçus –, formando florestas de samambaias gigantes. Seus fósseis podem ser encontrados no interior do estado do Tocantins e também no Piauí, onde ocuparam extensas regiões 270 milhões de anos atrás.
No decorrer da história da Terra, todas as vezes em que o ambiente se tornava quente e úmido, havia a possibilidade de desenvolvimento destas plantas. Além do Carbonífero, outros momentos do passado de nosso planeta foram muito favoráveis à sua proliferação. Um exemplo foi o período Cretáceo, em que grandes folhagens de samambaias petrificaram-se nos sedimentos lamosos de lagos de águas quentes.
Algo especial que pairava no quintal de minha avó eram os múltiplos tons de verde que irradiavam de suas samambaias: muito escuro, pouco escuro, claro, translúcido, azulado, acinzentado e amarelado. Formavam um emaranhado de possibilidades em uma única cor, que me remetia à reflexão. Quando hoje encontro seus restos entranhados nas rochas de muitos milhões de anos, rememoro a tranquilidade dessas florestas perdidas no tempo e fossilizadas em cores verdes, tão bem presentes, no passado de minha imaginação.