Reza a lenda que brasileiro não gosta muito de frio. Estamos acostumados com o calor dos trópicos, e em qualquer dia de inverno um pouco mais fresco já nos desesperamos, colocando casacos e cachecóis exagerados. Pode ser que sejamos friorentos. Mas, para um pequeno grupo de cientistas brasileiros, o frio vai chegar de verdade!
Eles se preparam para trabalhar em uma base no interior do continente Antártico, a apenas 670 quilômetros do polo Sul, onde as temperaturas nunca ficam acima de 10 graus Celsius negativos. O novo módulo de pesquisa, apelidado de Criosfera 1, foi desenvolvido no Brasil em 2011 e chegou à Antártica em 2012. Ele consiste em um container com equipamentos para gerar energia elétrica própria, realizar medições automaticamente e enviar os dados obtidos via satélite.
Para gerar energia elétrica, o Criosfera 1 usa duas formas. A primeira é por meio de placas fotovoltaicas na lateral do módulo, pois o Sol naquelas latitudes está sempre muito baixo no horizonte. Quando há luz suficiente, então, as placas convertem a luz do Sol em energia elétrica. Quando não há, quatro turbinas eólicas aproveitam os fortes ventos da região para também produzir energia elétrica e alimentar os instrumentos.
Em 2014, há planos de ampliar o Criosfera 1, acrescentando um módulo-dormitório para abrigar os cientistas que estiverem por lá. Isso permitirá que os pesquisadores fiquem na base por até três meses sem interrupção, desenvolvendo estudos que atualmente não são possíveis.
Os dados meteorológicos obtidos na Antártica ajudam a compreender o clima da Terra e as mudanças que ele vem sofrendo recentemente, em particular na circulação de água no oceano Austral – o grande trecho de mar que envolve a Antártica, por onde circula uma corrente marítima que dá a volta completa no continente e desempenha um papel fundamental para o clima do mundo todo, mas especialmente o do hemisfério Sul.
Cientistas brasileiros também colaboram com colegas de outros 22 países em pesquisas sobre a história do gelo da Antártica. Eles retiram cilindros de gelo de até 100 metros de profundidade que dão pistas valiosas sobre o passado! Como a cada inverno são depositados 30 centímetros de gelo, esses cilindros trazem informações sobre os últimos 300 anos da história climática do local.
Muitas outras pesquisas podem se beneficiar de um posto avançado como este em pleno coração da Antártica: estudos atmosféricos sobre a velocidade com que está sendo degradada a camada de ozônio e estudos sobre “raios cósmicos” e a maneira como estas partículas subatômicas colidem com átomos na atmosfera – gerando, entre outras coisas, o belo fenômeno das auroras polares – são dois exemplos.
Se essas pesquisas forem bem sucedidas, é provável que o interesse em ciência polar no Brasil cresça. E quem sabe quando você, futuro cientista, já estiver fazendo sua própria pesquisa, daqui a mais uns anos, não acabe querendo ir pra lá para fazer suas descobertas? Aproveite a praia enquanto pode, porque depois o jeito vai ser se acostumar com o frio… Brrrr!