Dia de ir ao parque de diversões? Oba! Um dos meus brinquedos favoritos é a montanha-russa. Já foi? A gente fica na maior expectativa quando o carrinho está subindo e, quando chega lá no alto e começa a descer… Vem aquele friozinho na barriga! A mesma coisa pode aparecer em outras situações – por exemplo, no elevador. Em inglês, essa sensação estranha é chamada de “borboletas na barriga”, o que eu acho uma imagem bem legal. Mas de onde será que ela vem?
No interior do nosso corpo tem um monte de líquidos. O sangue, que é bombeado pelo coração e que flui em velocidade o tempo todo pelo corpo, é um deles. Mas há também líquidos que ficam a maior parte do tempo “parados”: o suco gástrico que ajuda a fazer a digestão no interior do estômago; o líquido no labirinto do ouvido que nos dá a sensação de equilíbrio; a bile na vesícula; a urina na bexiga etc.
Quando estamos parados – ou mesmo nos movendo com uma velocidade mais ou menos constante, como quando caminhamos – esses líquidos se depositam e fazem pressão sobre a parte de baixo dos órgãos que os contêm. Isso acontece por causa da gravidade, que puxa tudo sempre para baixo. A sensação normal que temos, por exemplo, do suco gástrico dentro do estômago, é a do líquido exercendo uma força igual ao seu peso sobre a parede interna da parte de baixo do estômago.
Quando começamos a cair junto com o carrinho da montanha-russa, no entanto, o suco gástrico não exerce mais a mesma força sobre a parte de baixo do estômago, porque todo o nosso corpo (e não só o estômago!) também está caindo junto com o líquido. Então, a força sobre a parede interna do estômago fica muito menor. É quase como se o suco gástrico flutuasse dentro dele, como um astronauta dentro de uma estação espacial. Essa diminuição da pressão que o líquido faz na parede desse órgão é interpretada pelo nosso cérebro como o famoso “friozinho” (ou “borboletas”) na barriga.
Coisas semelhantes acontecem em situações mais corriqueiras. Um exemplo: quando descemos no elevador e nos sentimos um pouco mais leves, como se nossos pés não estivessem fazendo mais tanta força sobre o chão. É isso mesmo o que acontece, porque estamos, de fato, descendo. Alguns elevadores, normalmente em prédios muito altos, têm que descer com mais rapidez. Para isso, começam a descida em movimento rápido de queda por alguns décimos de segundo, dando uma sensação parecida com a da montanha-russa, só que por um tempo bem mais curto.
Outras situações podem não ser tão divertidas. Quando somos acelerados para um lado, em vez de para baixo, por exemplo, a sensação é mais enjoada. É o que acontece quando sacolejamos no carro ou no ônibus que faz muitas curvas seguidas. Nesse caso, o líquido no interior do nosso estômago é jogado para as paredes laterais do estômago. Isso é mais ou menos o que aconteceria com a água dentro de um balde que esteja no seu colo no interior do carro: ela também “subiria” a parede lateral do balde oposta à direção para onde o carro está virando. Muita gente também enjoa ao andar de barco, porque, no barco, somos jogados para lá e para cá o tempo todo.
Não há muito o que se possa fazer para evitar essas sensações, do ponto de vista da física. O jeito é pedir para o cérebro tolerar os enjoos e aproveitar os friozinhos na barriga. Mas, se lhe serve de consolo, isso funciona como uma espécie de “sexto sentido”: podemos saber, automaticamente, que estamos caindo, ou virando para o lado, ou sendo pendurados de cabeça para baixo, apenas sentindo para onde estão indo os líquidos no interior do nosso corpo, sem usar nenhum dos cinco sentidos tradicionais.