Uma das coisas que mais me inspiraram a ser professor foi ter sido monitor do laboratório de física de minha escola no Ensino Médio (e ter feito parte de um grupo de rapazes e moças que gostava de fazer experimentos). Lá eu pude ajudar os alunos mais novos a entender os conceitos e, fundamentalmente, conversar sobre essa disciplina de uma forma divertida. Infelizmente, quando alguém pensa em como se faz ciência, a imagem de um grupo de amigos se divertindo juntos não é a primeira coisa que vem à cabeça. Uma pena, porque uma das coisas mais legais da ciência é justamente se divertir e descobrir as novidades junto com outras pessoas.
Como professor, hoje eu reconheço o valor que teve para mim aquele ambiente. E o quanto devo aos meus professores, que tiveram o trabalho de fazer aquela estrutura funcionar e me propiciaram aquela vivência, ano após ano…
Por isso, fico sempre muito feliz quando presencio jovens professores idealistas tomando iniciativas semelhantes. Não muito tempo atrás, respondi uma mensagem de uma professora aqui na coluna. A partir desse contato inicial, passamos a trocar mensagens. A Amanda dá aulas de física na Escola Estadual Professora Zila Mamede, em Natal, no Rio Grande do Norte (na “quina” do Brasil). Desde 2013, organiza lá o Clube de Ciências Bóson de Higgs, batizado pelos próprios alunos em homenagem a uma das mais relevantes descobertas recentes da física de partículas.
A coisa toda começou, ela me contou, a partir de uma conversa de recreio com os alunos sobre como seria legal fazer mais experiências e estudar outras coisas relacionadas à física fora de sala de aula. A Amanda se empolgou e passou a se reunir com os alunos interessados num horário fora da grade curricular, onde o grupo aprofundava os conhecimentos adquiridos em sala e trazia propostas de experimentos. Logo estavam apresentando seminários uns para os outros, e para o resto da escola, participando de feiras de divulgação de tecnologia na universidade e até batendo papo via internet com o Denis Damazio, engenheiro que trabalha para o Cern, o Centro Europeu para Pesquisas Nucleares, onde o bóson de Higgs foi descoberto.
A Amanda relata que a participação no clube ajudou a melhorar o desempenho escolar dos alunos, e que, de lá pra cá, pelo menos quatro membros do clube seguiram estudando em instituições federais renomadas no estado. Mas o mais importante, segundo ela, é que todos os clubistas passam a enxergar a física – e o mundo, de uma forma geral – de maneira diferente, mais divertida, ainda que nunca mais venham a estudar ciências na sequência de sua formação.
Para os que quiserem conhecer o clube, eles estão no YouTube e nas redes sociais, como o Facebook e o Instagram, onde qualquer um pode trocar figurinha com a Amanda e com os clubistas.
Em particular, o que eu acho mais bacana nessa história toda é ver não apenas o quanto a garotada se diverte, mas também como a Amanda fica realizada.
Aos professores, fica a dica: montar um clube de ciências com seus alunos faz bem à saúde (à mente e ao coração!).
Parabéns pela iniciativa, Amanda, e muito (mais ainda) sucesso para o clube! Mande minhas saudações calorosas para o pessoal daí!