Como, onde, quando, por quê?

Adoro fazer perguntas! Divirto-me pensando sobre tudo, questionando, investigando, pesquisando, esclarecendo dúvidas. Acho, de verdade, que fazer perguntas é mais importante, divertido e interessante do que respondê-las.

Perguntar pode ser mais divertido do que responder perguntas! (foto: Jared Cherup / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)

Perguntar pode ser mais divertido do que responder perguntas! (foto: Jared Cherup / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)

Tudo que mais gosto de fazer na vida tem a ver com fazer perguntas, a mim mesma e aos outros. Desde criança, adorava brincar de investigar. Fui crescendo sem perder o hábito e o gosto, e me tornei jornalista, professora e, mais recentemente, psicanalista. São ou não são profissões relacionadas diretamente à pratica investigativa?

Além das minhas áreas profissionais, muitas outras atividades dependem do questionamento, da investigação e da pesquisa. O que seria dos cientistas sem o ponto de interrogação? A atividade científica, de modo geral, é baseada na pesquisa e nas práticas investigativas. As mais importantes invenções e descobertas da história da humanidade começaram com uma dúvida, um questionamento, uma inquietação… Uma pergunta!

Penso que o que nos move, não somente no trabalho, mas na vida como um todo, são as perguntas que fazemos. Às vezes, determinados questionamentos nos acompanham e nos motivam por toda a vida, e influenciam nossas escolhas pessoais e profissionais. Pare um pouquinho de ler este texto e pense em que perguntas você anda se fazendo. O que quer descobrir ou entender? O que precisa saber? E procure guardar com muito cuidado e carinho suas perguntas, cultive-as, permita que elas lhe incentivem a buscar respostas, nem que leve a vida inteira para encontrá-las. A vida sem perguntas deve ser bem chata, não acha?

O hábito de questionar nos ajuda a manter as capacidades de estranhar, de se encantar, de se surpreender, se espantar e se indignar. Guarde com mais apreço os pontos de interrogação do que os pontos finais que encontrar pelo seu caminho. Eles podem ser bons amigos!

Vou encerrar minha coluna compartilhando um trecho do poema “Sou uma pergunta”, de Clarice Lispector – que era, certamente, uma artista que amava o ponto de interrogação. Espero que as perguntas de Clarice ajudem a convencer você de que é muito bom ser perguntador!

Após ler as perguntas que selecionei do poema de Clarice, dê continuidade a ele, do seu jeito. Vá em frente e pergunte-se o que quiser. Pense quais são suas próprias perguntas, registre-as e, depois, faça o que quiser com elas: busque respostas ou, simplesmente, guarde-as como perguntas, belas, vivas e cheias de possibilidades. Não esqueça de regá-las todos os dias, com carinho, curiosidade e coragem. Por que não?

“Quem fez a primeira pergunta?
Quem fez o mundo?
Se foi Deus, quem fez Deus?
Por que dois e dois são quatro?
Quem disse a primeira palavra?
Quem chorou pela primeira vez?
Por que o Sol é quente?
Por que a Lua é fria?
Por que o pulmão respira?
Por que o sol se morre?
Por que se ama?
Por que se odeia?
Quem fez a primeira cadeira?
Por que se lava a roupa?
Por que se tem seios?
Por que se tem leite?
Por que há o som?
Por que há o silêncio?
Por que há o tempo?
Por que há o espaço?
Por que há o infinito?
Por que eu existo?
Por que você existe?
Por que há o esperma?
Por que há o óvulo?
Por que a pantera tem olhos?
Por que há o erro?
Por que se lê?
Por que há a raiz quadrada?
Por que há flores?
Por que há o elemento terra?
Por que a gente quer dormir?
Por que há o elemento fogo?
Por que há o rio?
Por que há a gravidade?
Por que e quem inventou o óculos?
Por que há doenças?
Por que há saúde?
Por que faço perguntas?
Por que não há respostas?
Por que quem me lê está perplexo?
Por que estou viva?
Por que quem me lê está vivo?
Por que estou com sono?
Por que minto?
Por que digo a verdade?
Por que existe a galinha?
Por que procuro as coisas e não encontro?
Por que as pessoas se reúnem para jantar?
Por que a língua italiana é tão amorosa?
Por que a pessoa canta?
Por que existem coisas moles e coisas duras?
Por que tenho fome?
(…)”