Copa do Mundo e efeitos coletivos

Em tempos de Copa do Mundo, não dá pra falar de outra coisa. Física tem tudo a ver com futebol, e é até difícil escolher do que falar, tantas são as opções. Mas um artigo no jornal me chamou a atenção para um detalhe muito interessante: assim como o futebol é um esporte coletivo, também no dia a dia vemos consequências importantes do efeito coletivo de nosso comportamento individual. Um exemplo disso? Como o consumo de energia elétrica é afetado pelos jogos da Copa!

Em hora de jogo do Brasil, não é difícil prever: uma parte muito grande da população vai ficar ligada na tevê para acompanhar a partida. (foto: Patricia Oliveira / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/deed.pt)CC BY 2.0(/a))

Em hora de jogo do Brasil, não é difícil prever: uma parte muito grande da população vai ficar ligada na tevê para acompanhar a partida. (foto: Patricia Oliveira / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/deed.pt)CC BY 2.0(/a))

No Brasil, a energia elétrica que alimenta todos os aparelhos elétricos de nossas casas, incluindo o televisor em que assistimos aos jogos, é monitorada por um órgão do governo chamado Operador Nacional do Sistema Elétrico.

Os sensores e computadores do Operador Nacional ficam “olhando” o tempo todo para ver quanta energia está sendo gasta em cada canto do país. Como a seleção brasileira é uma paixão nacional, na hora dos jogos do Brasil é certo que uma parte muito, muito grande da população não está usando nenhum outro aparelho elétrico além da TV, assistindo à partida. Como as TVs não consomem muita energia para funcionar (em comparação com outros aparelhos, como geladeiras, máquinas de lavar e chuveiros elétricos), isso faz com que o consumo total de energia caia durante os horários dos jogos.

Já durante o intervalo, o consumo aumenta significativamente. Olhando para o gráfico abaixo, podemos quase ver as pessoas se levantando e abrindo as geladeiras para buscar mais bebidas (abrir a porta da geladeira ou do freezer durante algum tempo faz com que a temperatura do interior da geladeira suba, obrigando o motor da geladeira a ligar para esfriá-la novamente, o que consome mais energia elétrica).

Repare que o consumo de energia no país durante o jogo do Brasil com o México na última terça-feira (17/6), representado pela linha vermelha, foi significativamente menor que o de um dia “normal”, representado pela linha azul. Além disso, vemos que, no intervalo da partida, há um aumento de 3.700 megawatts no consumo de energia em apenas 10 minutos. (gráfico: Boletim ONS)

Repare que o consumo de energia no país durante o jogo do Brasil com o México na última terça-feira (17/6), representado pela linha vermelha, foi significativamente menor que o de um dia “normal”, representado pela linha azul. Além disso, vemos que, no intervalo da partida, há um aumento de 3.700 megawatts no consumo de energia em apenas 10 minutos. (gráfico: Boletim ONS)

Outras pessoas podem estar aproveitando para ir tomar um banho rápido, ligando chuveiros elétricos, especialmente no sul do país, onde o inverno já praticamente obriga o uso destes aparelhos que consomem muita energia elétrica. Outras, ainda, podem estar ligando os computadores para postar nas redes sociais o que acharam do primeiro tempo. Enfim, todo mundo volta a fazer outras coisas, o que, em geral, implica gastar mais energia elétrica.

Esse efeito coletivo de uma população imensa fazendo a mesma coisa por causa do horário de um jogo de futebol me lembrou um desenho animado muito legal, chamado Por água abaixo. Você já viu?

O vilão da história é um sapo que odeia os ratinhos que vivem numa cidade dentro dos esgotos de Londres. Na história, a Inglaterra fará a final da Copa do Mundo contra a Alemanha e, portanto, todo o país estará assistindo ao jogo. O vilão planeja, então, inundar a vila dos ratos, abrindo as comportas do esgoto durante o intervalo da partida, quando toda a cidade de Londres terá ido ao banheiro para fazer xixi.

A trama é divertida e reflete a forma como o comportamento humano individual tem um impacto coletivo muito grande sobre o mundo físico. Isso acontece em muitas outras coisas, como, por exemplo, o trânsito. Em tempo: nos créditos finais do filme descobrimos quem ganha o jogo entre Inglaterra e Alemanha. Mas a final desta Copa de 2014, quem será que vai jogar?