Nosso dia prometia momentos de grande diversão: sol, uma praia de águas transparentes e uma caixa de isopor cheia de refrescos. Corremos para a água e, em seguida, ouvimos Lulinha gritar: “Aaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii”!!!
Era um “ai” tão alto e agudo, que, em vez de corrermos para ajudá-lo, saímos apavorados da água, todos correndo, também gritando “Ai, ai, ai, ai, ai, ai …ai”. Ninguém entendia exatamente o que estava acontecendo, mas sabíamos que era melhor ficar longe da água. Porém, lá continuava Lulinha com seu interminável aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
“Fui atacado por um jacaré!”, gritava, ensandecido. Em uníssono, retrucamos: “Na praia, seu mané???”
Pouco depois, Lulinha veio boiando nas pequenas marolas até chegar em areia firme. Só então fomos em sua direção e, de imediato, percebemos que ele não conseguia andar – seus pés estavam cheios de espinhos longos e negros com um grande e rechonchudo ouriço ainda dependurado em seus dedos.
Coitado! Deve ter doído muito, mas muito mesmo. Os ouriços possuem espinhos grandes e resistentes, que servem tanto para sua proteção quanto para escavar buracos em litorais rochosos, protegendo-os, assim, da ação das ondas.
Ouriços são invertebrados que possuem, além de seus proeminentes espinhos, um esqueleto externo formado por várias placas endurecidas de calcário, que formam uma carapaça arredondada. Esses animais vivem normalmente em ambientes marinhos e são bastante comuns próximos às praias. Alimentam-se raspando algas do fundo do mar, comendo detritos ou outros invertebrados marinhos. Pertencem ao grupo conhecido como Echinoidea.
Pelo fato de possuírem a proteção externa formada por placas calcárias e espinhos, os ouriços são muitas vezes encontrados como fósseis. Seu esqueleto externo pode ser preservado por completo, mas, geralmente, os espinhos e placas calcárias se separam durante a fossilização.
No Brasil, esses fósseis são muito comuns no Pará, em rochas que se distribuem por uma área de centenas de quilômetros quadrados, desde o litoral até o interior do estado. São os ouriços de Pirabas, com mais de 20 milhões de anos, que relatam a existência de um antigo mar de águas quentes e cristalinas no passado daquela região, muito parecido com o que existe atualmente no Caribe ou estados brasileiros como Alagoas.
Naquela manhã ensolarada, nos afastamos do mar e carregamos Lulinha até a casa mais próxima. Descobrimos, dolorosamente, que não é preciso ser tubarão ou jacaré para acabar com o pé de um amigo!