Quando criança, toda vez que eu e meus primos íamos à fazenda dos meus avós, éramos alertados para tomar cuidado com as lava-pés. Caso você não conheça, as lava-pés são formiguinhas com um ferrão no final do abdômen, e cuja picada injeta um veneno doloroso. Imagine só pisar descalço ou de chinelos sobre um ninho delas? As ferroadas causam uma sensação de queimação que te faz querer lavar o pé na hora, na tentativa de alívio. Vem daí o nome “lava-pé”, em português, e fire ants (“formigas-de-fogo”), em inglês.
Essas danadinhas pertencem ao gênero científico Solenopsis, composto por cerca de 200 espécies que ocorrem em diversas regiões do mundo. Seu nome tem origem grega, e quer dizer algo como “parecido com um tubo”, talvez pela forma do seu corpo.
No Brasil existem cerca de 40 espécies de Solenopsis já catalogadas. Mas, nem todas são consideradas lava-pés. Muitas são bem pequenas, com cerca de 1 milímetro de comprimento, incapazes de nos picar. As chamadas lava-pés são um grupo de Solenopsis consideradas grandes pelos cientistas, medindo mais de 2 milímetros.
Cerca de 10 espécies das chamadas lava-pés já foram registradas em nosso país, e outras ainda podem ser descobertas à medida que os cientistas ampliam seus estudos. Uma das espécies mais comuns por aqui é a Solenopsis saevissima. Seu nome, em latim, quer dizer “furiosíssima”.
Outra com nome curioso é a Solenopsis megergates, “grande operário” em grego, pois as operárias desta espécie são as maiores entre as lava-pés, podendo medir quase 7 milímetros de comprimento. Já a Solenopsis pusillignis (“fogo menor”, em latim) ganhou seu nome por ser a menor das espécies de lava-pés, com 2 milímetros ou menos.
E que tal a Solenopsis invicta, cujo nome significa “invencível” em latim? Esta espécie, nativa da Bolívia, Paraguai, Brasil e Argentina, foi levada acidentalmente para o sul dos Estados Unidos no início do século 20, provavelmente durante o transporte de cargas de bananas em navios. Lá, essas formigas encontraram um ambiente muito favorável para se desenvolverem, e acabaram se tornando uma verdadeira praga. É possível encontrar formigueiros espalhados em cidades e fazendas, danificando plantações, picando pessoas, animais domésticos, e ainda competindo com as espécies nativas, causando assim um desequilíbrio ambiental.
Por ano, os Estados Unidos gastam mais de 5 bilhões de dólares para combater a Solenopsis invicta. O pior é que esta espécie já conseguiu se espalhar mais, viajando “de carona” dos Estados Unidos para outros países como a Austrália e a China. Realmente, uma formiga invencível!