No embalo da boicininga

Responda rápido: que serpente possui um chocalho na ponta da cauda? Se você disse cascavel, acertou em cheio. Mas você sabia que os povos indígenas deram a essa espécie outros nomes?

Alguns povos que falavam línguas de origem tupi e guarani chamavam a cascavel de boicininga, que significa “cobra que tine”, ou seja, que faz barulho. Outros preferiram boiquira, a “cobra gorda”. E que tal maracamboia, que quer dizer “cobra de chocalho”? De região para região, surgem também variações dessas palavras, como boicinunga, boiçuninga, boiçununga e maracaboia.

Apenas uma espécie de cascavel é encontrada em toda a América do Sul, habitando áreas abertas naturais ou criadas pelo ser humano, como pastagens. O desmatamento das florestas faz com que as cascavéis ocupem áreas onde não viviam naturalmente, como o estado do Rio de Janeiro (Foto: Leandro Oliveira Drummond)

Apenas uma espécie de cascavel é encontrada em toda a América do Sul, habitando áreas abertas naturais ou criadas pelo ser humano, como pastagens. O desmatamento das florestas faz com que as cascavéis ocupem áreas onde não viviam naturalmente, como o estado do Rio de Janeiro (Foto: Leandro Oliveira Drummond)

O termo “cascavel” é uma palavra da língua portuguesa, que quer dizer “guizo” ou “chocalho”. Com o tempo, a serpente-de-cascavel passou a ser chamada por nós apenas de cascavel.

Atualmente são conhecidas cerca de 30 espécies de cascavéis, mas apenas uma existe no Brasil – as outras vivem na América Central e América do Norte. Nossa cascavel é denominada cientificamente de Crotalus durissus.

O nome Crotalus tem origem grega e quer dizer – adivinhe? – “chocalho”. Já durissus é um termo em latim, cujo significado é “muito duro”. Agora, não se engane: não é o chocalho da cascavel que é muito duro, e sim as escamas ásperas que revestem o corpo da serpente.

O chocalho é uma curiosa estrutura presente na cauda das cascavéis. À medida que a serpente cresce, troca suas escamas antigas por novas, e o chocalho ganha um novo segmento. A troca de escamas pode ocorrer mais de uma vez por ano, e o chocalho é frágil e pode se quebrar quando fica grande (Foto: Leandro Oliveira Drummond)

O chocalho é uma curiosa estrutura presente na cauda das cascavéis. À medida que a serpente cresce, troca suas escamas antigas por novas, e o chocalho ganha um novo segmento. A troca de escamas pode ocorrer mais de uma vez por ano, e o chocalho é frágil e pode se quebrar quando fica grande (Foto: Leandro Oliveira Drummond)

Um detalhe interessante é que existem subespécies de Crotalus durissus, ou seja, as cascavéis de algumas regiões possuem leves diferenças, mas não o suficiente para serem consideradas espécies distintas (o mesmo acontece, por exemplo, com cães e lobos).

No Brasil, há seis subespécies de Crotalus durissus. Na região norte, estão presentes C. d. ruruima (nome indígena do local onde vive, o Monte Roraima), C. d. marajoensis (vista apenas na Ilha do Marajó) e C. d. dryinas (encontrada no Amapá, e cujo nome talvez faça referência às ninfas das árvores, divindades gregas). A Caatinga é o habitat da C. d. cascavella (aposto que você sabe o que este nome significa!). O Cerrado da região central do país é lar de outra subespécie, a C. d. collilineatus (seu nome, em latim, quer dizer “que tem linhas no pescoço”, por causa do seu padrão de cor). Por fim, temos C. d. terrificus, que é encontrada principalmente no sudeste e sul do Brasil (seu nome vem do latim “terrível”, por causa do medo que as pessoas geralmente têm desta serpente).

É importante você saber que nem todos pesquisadores concordam com isso. Há estudos que indicam que algumas subespécies de cascavel não podem ser diferenciadas entre si. A verdade é que ainda temos muito que estudar sobre as cascavéis da América do Sul. Quem se candidata?