O azul que sumiu do céu

Uma ave pequena, com menos de 60 centímetros, bico negro, corpo coberto por penas azuis e cabeça com penas acinzentadas. Essa é a ararinha-azul. Agora tente imaginá-la voando por aí. Que beleza deve ser, não é mesmo? Infelizmente, é só isso que podemos fazer agora, ou, no máximo, encontrar alguma foto ou vídeo raro desse momento. Afinal, a natureza perdeu essa espécie, personagem principal do desenho animado Rio, que chega neste mês aos cinemas.

A ararinha-azul vivia numa pequena região da Caatinga, no nordeste da Bahia e oeste de Pernambuco, em matas localizadas nas margens de riachos (foto: Gloria Jafet/Fundação Parque Zoológico de São Paulo).

Da Bahia para a Alemanha
Em 1819, enquanto viajava pela Bahia com seu colega Carl F. P. von Martius, o pesquisador alemão Johann Baptist von Spix encontrou um exemplar de ararinha-azul. Na época, a ciência ainda não tinha batizado esta espécie, e Spix não percebeu que se tratava de uma arara diferente das outras. Ele pensava que havia encontrado um indivíduo da arara-azul-grande.

Alguns anos depois, o cientista Johann Georg Wagler passou a estudar o material que Spix levou para a Alemanha após sua viagem pelo Brasil. Lá, Wagler percebeu que a arara encontrada por Spix na Bahia era uma espécie nova, e então a descreveu em um trabalho científico.

A palavra ararinha é um diminutivo em português da palavra arara, cuja origem é indígena. Os indígenas podem ter criado o nome arara devido à voz de algumas espécies, que emitem um som parecido com “ará”. Mas arara pode ter surgido também a partir da abreviação da palavra guirá (“pássaro”), que virou ará. Arara seria então o aumentativo de ará, indicando um “pássaro grande”, já que algumas espécies de araras têm grande tamanho.

Hoje, a ararinha-azul é conhecida pelos pesquisadores como Cyanopsitta spixii. O nome do gênero (Cyanopsitta) significa “papagaio azul-escuro” em grego, enquanto o nome específico (spixii) é uma homenagem de Wagler ao amigo Spix.

Raridade
Desde a viagem de Spix pelo Brasil, poucos foram os registros de Cyanopsitta spixii. Durante algumas décadas, ninguém a viu na natureza, até que três indivíduos foram reencontrados em 1986. Em 1990, o último exemplar foi visto e passou a ser acompanhado, até desaparecer em 2000. A destruição das matas às margens dos riachos da região onde a ararinha-azul vivia e o tráfico de animais silvestres foram os principais responsáveis pela extinção desta espécie na natureza.

Johann Baptist von Spix (à esquerda) e Johann Georg Wagler (à direita). Alemão, Spix chegou ao Brasil em 1817 junto de outro cientista, Carl F. P. von Martius. Enquanto Spix se dedicava mais ao estudo dos animais, Martius pesquisava as plantas. De volta à Europa, Spix teve Wagler como assistente e sucessor no Museu de Zoologia da cidade de Munique. Wagler estudou o material trazido do Brasil por Spix, que faleceu antes de conseguir fazer esse trabalho.

Um pouco de esperança
A ararinha-azul desapareceu da natureza, mas ainda não foi extinta. Restam aproximadamente 80 indivíduos da espécie criados em cativeiro, como parte de um programa de conservação realizado em vários países. Com o nascimento de filhotes, espera-se que aos poucos a população da ararinha aumente, e que, no futuro, a espécie possa ser reintroduzida em seu habitat natural. Se isso ocorrer, nosso céu voltará a ficar mais azul.

O filme Rio, que chega aos cinemas este mês, conta a estória de Blu, um macho de ararinha-azul que vive em cativeiro nos Estados Unidos, e nunca aprendeu a voar. Na tentativa de ajudar a salvar a espécie, Blu é trazido para o Brasil para encontrar uma fêmea, Jade. Os dois acabam sendo sequestrados por traficantes de animais e juntos vão passar por muitas aventuras!

 


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Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora

Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!