O calor era forte e aguardávamos ansiosos pela chuva que refrescaria os dias de um verão que mal havia se iniciado. No final da tarde, na calçada em frente à escola, observávamos as nuvens. Grandes, volumosas, e, por vezes, escuras, elas assumiam formas que reconhecíamos como cavalos, dinossauros, jacarés, cogumelos, flores, além de muitos outros bichos e plantas. As nuvens se transformavam com a mesma rapidez que as possibilidades de nossa imaginação.
De maneira semelhante, para compreendermos a memória da Terra, guardada pelos fósseis, minerais e rochas, também precisamos de imaginação.
Descobrir e entender o passado da Terra não é simples, demandando um grande esforço e capacidade para interpretar sua história, evitando assim que façamos uma interpretação errada. Existem minerais e rochas, que como as nuvens, assemelham-se aos seres vivos, mas que, em realidade, não o são. Trata-se dos pseudofósseis – minerais ou rochas que parecem (mas só parecem!) organismos fósseis.
O mineral pirolusita – que forma o dendrito de pirolusita – é um deles. O que parece ser uma planta à primeira vista, ao ser observado em detalhe, revela sua verdade identidade: um mineral, sem qualquer relação com um vegetal petrificado. Também podemos ser enganados pelas concreções rochosas, que assumem aspectos muito estranhos, como os de bonecas, tartarugas, pés e cabeças humanos, além de muito, muito mais!
A natureza gosta de nos enganar. Acreditamos que podemos tudo controlar e entender. Porém, como naquele final de tarde, em que a esperada chuva não veio, os cavalos, dinossauros e jacarés adormeceram em um céu escuro, sem nuvens de chuva, mas carregado de estrelas de uma noite quente de verão.
Ismar de Souza Carvalho
Departamento de Geologia
Universidade Federal do Rio de Janeiro