Ganha um doce quem adivinhar o que rendeu o maior disse-me-disse antes da visita de Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, ao Brasil, na semana passada. Descobriu? Se você pensou: “a escolha do presente”, acertou! Pois foi isso mesmo: durante várias semanas, assessores da presidente brasileira Dilma Rousseff, jornalistas e curiosos em geral discutiram qual seria o melhor presente que Dilma ofereceria a Obama. A dúvida pairava entre coleção de gravuras nacionais, peças de artesanato, conjunto de gravações de música popular brasileira ou livros com fotografias de paisagens brasileiras. O importante era escolher algo que representasse bem o nosso país.
É sempre assim: quando um presidente visita outro, ganha algum presente que tenha relação com o país que visitou. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu do rei Abdullah, da Arábia Saudita, uma espada de ouro vermelho com pedras preciosas. Do presidente da Bolívia, Evo Morales, Lula foi presenteado com uma manta usada por índios andinos.
Mas por que o presente é tão importante? Por que os presidentes sempre trocam presentes quando visitam uns aos outros? Na verdade, a troca de presentes entre autoridades acontece desde a Antiguidade. Naquela época, os governantes não iam nas viagens. Eles mandavam emissários, ou embaixadores, seus representantes, que recebiam presentes de assessores dos reis que estavam sendo visitados. Até hoje é assim: não foi Dilma quem deu o presente de Obama com as suas próprias mãos. Foi a chefe do cerimonial do Ministério das Relações Exteriores, Maria de Lujam Vinkler, quem teve a honra de entregá-lo ao diplomata que representou o presidente norte-americano.
Receber bem um emissário de outro governante era um dever, um sinal de cortesia e hospitalidade. É como dizer que o visitante é bem-vindo. A troca de presentes é um sinal de que os dois soberanos se respeitam e se protegem mutuamente, e que as negociações decorrentes da visita serão feitas em paz. Os emissários gregos eram recebidos com banquetes em suas viagens. E os romanos consideravam a má recepção pelas potências amigas uma falta tão grave que podiam até declarar guerra aos mal-educados. No período medieval, os senhores feudais consideravam a troca de presentes importantíssima para as boas relações entre seus vizinhos, e sabiam que recusar um presente era uma ofensa grave.
Uma troca de presentes entre reis e autoridades de países amigos nunca terminava na oferta do presente. Era preciso depois retribuir a visita – o que significava também ganhar um presente. A reciprocidade é fundamental para marcar as boas relações entre reinos, impérios e países. Por isso, a esta altura, a Dilma já deve estar planejando sua visita aos Estados Unidos! O que será que ela ganhará de presente de Obama?
Ah, sim, já ia quase esquecendo: Obama ganhou de Dilma um livro de fotos artísticas do Rio de Janeiro. Bom presente, para quem gostou tanto da Cidade Maravilhosa!
Keila Grinberg
Departamento de História
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro