Ruídos do passado

Antigamente, o tempo da quaresma era levado muitíssimo a sério. Logo após o carnaval, desde a quarta-feira de cinzas, eram quarenta dias de longo e profundo silêncio. Durante este período os únicos sons que se ouviam eram os das rezas nas igrejas. Em casa, não pegava nada bem cantar ou mesmo falar um pouco mais alto. Assim, quase sussurrando, as pessoas permaneciam até o domingo de Páscoa.

Durante a quaresma, em casa ou nas ruas, rezávamos, rezávamos e rezávamos. (foto: Wikimedia Commons)

Desde que o mundo é mundo, os sons, dos suaves aos ensurdecedores, estiveram sempre presentes. Mas como seria uma história dos sons no decorrer dos quatro bilhões e meio de anos de nosso planeta? Sem dúvida alguma, bastante variado.

Bem no início, teríamos o som do impacto dos meteoros e das explosões vulcânicas repentinas. Devia ser um tal de “bummm… bum… ploooocc… ploooocc…” intermináveis. Quase como uma panela gigante de pipoca estourando de forma descontrolada.

No início da história da Terra, o impacto dos meteoros e as explosões dos vulcões eram os sons predominantes em nosso planeta. (foto: Oliver Spalt / Wikimedia Commons / (a href=http://creativecommons.org/licenses/by/2.0/deed.en)CC BY 2.0(/a))

Após este momento ensurdecedor e infernal, um bilhão de anos mais tarde, viria o barulho das águas torrenciais das fontes, dos rios e dos mares. O ruído de tempestades imemoriáveis em cortinas de chuvas que arrasavam a superfície sem vida de nosso planeta. E ao final, as ondas, com seu incansável “chulep… chulep… chulep…” açoitando as praias arenosas e também aquelas rochosas.

Depois de um bilhão de anos, os sons da águas e dos ventos assolavam a Terra. (foto: Erik Veland/ Flickr / (a href=http://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0/deed.pt)CC BY-NC 2.0(/a))

Demorou bastante até que algum ser vivo pudesse fazer parte dos milhares de sons existentes na Terra. Porém, há 700 milhões de anos, quando a barulheira produzida pelos animais começou, não terminou mais. No início, os sons deviam ser baixinhos, como o de um pequeno invertebrado atacando um pedaço de planta: “croc… croc… croc…”. Depois, com o passar de milhões de anos, com o aumento da diversidade e também do tamanho dos animais, os ruídos progrediram de intensidade. Imagine então como não deveriam ser os sons produzidos pelos grandes dinossauros. Era “ROOOUAAARRRRRRRR…” pra tudo quanto era lado!

Com o surgimento da vida na Terra, os sons se diversificaram. No início, baixinhos, mas progressivamente bem mais barulhentos. Imagine no tempo dos dinossauros! (foto: Sam Howzit / Flickr / (a href=http://creativecommons.org/licenses/by/2.0/deed.pt)CC BY 2.0(/a))

Mais algumas dezenas de milhões de anos e surgiram os seres humanos. Vorazes geradores de sons (sejam os que emitimos com nossas vozes ou aqueles dos instrumentos musicais) capazes de transformar o movimento do ar na vibração dançante de nossos corpos.

Porém, neste transcorrer da história da Terra, os sons do passado se perderam. Levados pelo vento, eles são como o tempo: impossíveis de serem novamente sentidos, tal qual uma longa quaresma de ensurdecedor silêncio.