O verão chegou ao fim, finalmente, e com ele também encerramos nossa série de textos sobre mergulho. A agora a água já começa a ficar fria, e, em vez de mergulhar nela, vamos ver o aparelho que um dos maiores pensadores da Antiguidade imaginou para levá-la de um lugar mais baixo a um outro lugar, mais alto. Estamos falando do parafuso de Arquimedes!
Arquimedes viveu na cidade de Siracusa, na Sicília, uma ilha perto da ponta do pé da “bota” da Itália. Naquela época – o século 3 antes de Cristo – era parte da civilização grega. De fato, Arquimedes, já velhinho, foi morto quando Roma, que surgia como potência militar, invadiu sua cidade.
Ele parece ter sido uma pessoa muito sábia e com uma mente bastante irrequieta, bolando coisas e resolvendo problemas o tempo todo. Seu feito mais famoso certamente foi a descoberta do comportamento das forças que atuam nos corpos imersos em fluidos, que imortalizou a expressão em grego “eureka!” (descobri!) para esses momentos em que se tem uma ideia genial.
A sacada resolveu o problema de determinar se o artesão encarregado de fazer uma coroa para o rei da cidade havia surrupiado parte do ouro e substituído por um metal menos valioso. Para infelicidade do artesão, Arquimedes concluiu que sim, mas essa é uma outra história.
Voltemos ao parafuso, então. Trata-se de um sistema feito para levar um líquido – ou qualquer substância que escorra ou possa ser derramada, como grãos – de um patamar mais baixo para outro mais alto. Não se tem certeza de que Arquimedes tenha realmente inventado o dispositivo; pode ser que ele tenha visto em algum lugar e aperfeiçoado a ideia, mas, como os primeiros registros históricos parecem atribuir a ele a invenção, ele levou o crédito de qualquer maneira.
A coisa funciona assim: uma rosca em forma de parafuso é colocada numa parede cilíndrica feita para encaixar exatamente em torno da rosca. A parte de baixo do cilindro é colocada dentro da água ou do que quer que se queira carregar para cima, enquanto a parte de cima fica mais acima, inclinada, como na figura abaixo.
É como se tivéssemos uma mangueira enrolada em torno de um eixo que pode girar. Quando a ponta de baixo da mangueira entra na água, e é girada de volta para cima pelo outro lado do eixo de rotação, ela coleta certa quantidade de água na parte mais baixa da volta da mangueira. À medida que continuamos a girar o eixo de rotação, essa quantidade de água vai sendo empurrada para cima pelas paredes da mangueira, desde que a parte de baixo de cada volta da mangueira não chegue a ficar mais alta que a parte de cima da volta anterior da mangueira.
Quando o eixo tiver dado uma volta completa, aquela quantidade de água coletada estará agora na volta seguinte da mangueira, e a ponta da mangueira estará entrando novamente na água para coletar mais água. Aos poucos, as quantidades de água coletadas a cada volta vão chegando mais para cima, até saírem pela extremidade superior da mangueira, desde que, é claro, o eixo não pare de girar.
Para manter o eixo rodando continuamente, podemos girar uma manivela, bombeando manualmente a água para cima, ou podemos usar engrenagens para fazer com que o vento, ou o próprio fluxo de água, empurre alguma pá e faça girar o cilindro, o que de certa forma automatizaria o processo.
Parafusos de Arquimedes são usados até hoje na drenagem de áreas de plantio alagadas sazonalmente, por exemplo nos Países Baixos, onde gerenciar alagamentos é uma habilidade muitíssimo necessária. Também são usados em irrigação, para levar água para canais um pouco acima do reservatório, de onde o líquido poderá, então, ser distribuído por gravidade para todo o terreno.
Espero que não tenha ficado nenhum parafuso solto nesta conversa!