Quem vê uma tartaruga talvez nem desconfie, mas há algo nesse réptil que intriga os cientistas: a sua carapaça. Tudo porque não há outro animal, vivo ou extinto, em que as costelas tenham se transformado em um casco como o apresentado pelas tartarugas. Assim, fica a pergunta: como ele terá surgido?
Cientistas analisaram o desenvolvimento dos ossos e dos músculos em embriões da tartaruga-de-casco-mole-chinesa, levantando hipóteses para explicar como o casco desse tipo de animal surgiu. Suas conclusões foram publicadas no dia 10 de julho em uma importante revista estrangeira: a Science (Ciência, em português).
Nova hipótese para uma antiga questão
Outros pesquisadores já tinham se dedicado a estudar esse tema. Uma das hipóteses levantadas por eles foi a de que os ancestrais da tartaruga – que viveram há milhões de anos – desenvolveram uma densa cobertura de pequenas placas feitas de osso, originadas dentro da camada mais profunda da pele, tal como ocorre com os crocodilos e os lagartos. Essas placas teriam se juntado, tornando-se maiores, e se unido às costelas, o que teria dado origem à carapaça das tartarugas atual.
Parece, no entanto, que não foi bem isso o que aconteceu. Veja o porquê! Além de estudarem o desenvolvimento dos músculos e do esqueleto em embriões de tartaruga, os cientistas analisaram também embriões de rato e de galinha. Escolheram esse caminho porque os três animais são, de certa forma, parentes. Embora pareça difícil imaginar, répteis, aves e mamíferos têm ancestrais em comum e o estudo dos embriões é capaz de trazer informações sobre como as espécies evoluíram.
“Até certo ponto de desenvolvimento, muitos embriões de animais se parecem uns com os outros. Só em um estágio mais tardio, eles começam a tomar a forma característica do animal. Em geral, os embriões de bichos mais proximamente relacionados tendem a se desenvolver de uma forma similar, permanecendo indistinguíveis por mais tempo”, explicou à CHC on-line.
Shigeru Kuratani, um dos cientistas envolvidos no estudo. “A evolução dos animais ocorre de uma forma similar às mudanças que vemos no desenvolvimento dos embriões. Então, deve haver um ponto no tempo em que os embriões da tartaruga, do rato e da galinha começam a parecer diferentes.”
Vídeo mostra o esqueleto da tartaruga, do rato e da galinha. Veja como o osso chamado escápula ocupa uma posição diferente no corpo do réptil (crédito: Shigeru Kuratani e Hiroshi Nagashima).
Dobra que explica tudo
De fato, o estudo mostrou que os embriões dos três animais, no início, desenvolvem-se de uma forma parecida. Como estamos falando de parentes, provavelmente era desse jeito também que o último ancestral em comum entre eles se desenvolvia.
Porém, à medida que o embrião da tartaruga cresce, surge uma diferença. Uma membrana se dobra sobre si mesma, preservando algumas das conexões entre os ossos e os músculos que estão surgindo, mas também gerando novas conexões que não são vistas em outros répteis, em aves como as galinhas ou em mamíferos como os ratos.
Essa dobra, acreditam os cientistas, leva a carapaça das tartarugas a se desenvolver a partir das costelas, além de fazer com que esses bichos tenham outra característica peculiar entre os vertebrados: o osso chamado escápula envolvido pelas costelas, quando, nas aves, nos mamíferos e nos crocodilos, isso não ocorre (veja o vídeo).
É, quem diria que o casco das tartarugas representaria um enigma para os cientistas e que eles teriam que acompanhar o desenvolvimento desses animais desde o seu início para tentar solucioná-lo, não é mesmo?