“Ai, ai, ai, ai… Está chegando a hora/ O dia já vem raiando, meu bem/ eu tenho de ir embora”. Neste sábado, dia 8 de abril, às 20h56 (horário de Brasília), a nave russa Soyuz TMA-7 deve pousar no deserto do Cazaquistão, trazendo a bordo o primeiro astronauta brasileiro: Marcos César Pontes, que retorna de sua missão de oito dias na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). Para chegar a esse laboratório, que está a 350 quilômetros de distância da Terra, o cosmonauta brasileiro viajou por dois dias na Soyuz TMA-8. Seu retorno ao planeta azul, porém, deve durar cerca de três horas e meia, o que levanta a pergunta: por que voltar da ISS é muito mais rápido do que chegar até ela?
Se você tem acompanhado o diário de bordo do astronauta brasileiro Marcos César Pontes aqui na CHC On-line, deve lembrar que nós já sabemos por que a viagem de ida até a ISS demorou tanto: para chegar ao seu destino, a Soyuz TMA-8 não seguiu uma trajetória em linha reta. Na verdade, ela deu várias voltas ao redor da Terra para adquirir, gradualmente, a mesma velocidade da Estação Espacial Internacional, que se move a uma velocidade de 28 mil quilômetros por hora ao redor do nosso planeta. Enquanto girava em torno da Terra, a Soyuz TMA-8 também ia aumentando cada vez mais a sua altitude, pois os foguetes que a impulsionaram na saída da Terra não a deixaram na mesma altura em que estava a ISS, ou seja, a 350 quilômetros da Terra. Para atingir a mesma velocidade e altitude desse laboratório espacial, foi preciso que a Soyuz TMA-8 viajasse por cerca de 48 horas.
Todo esse tempo não será necessário para voltar à Terra por uma razão simples. “O processo de descida da Soyuz TMA-7 – que há cerca de seis meses levou os astronautas Bill McArthur e Valery Tokarev à ISS e agora retorna à Terra trazendo os dois e também Marcos Pontes –, é muito semelhante ao de subida, só que muito mais rápido”, explica Irajá Newton Bandeira, do Laboratório Associado de Sensores e Materiais, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Como ocorreu na viagem de ida à ISS, a nave russa não seguirá uma trajetória em linha reta até o nosso planeta: ela dará voltas ao redor da Terra. A diferença é que, desta vez, a Soyuz TMA-7, em vez de aumentar gradativamente a sua altura, irá descer pouco a pouco. Em vez de acelerar sua velocidade, irá reduzi-la gradativamente. Tudo muito parecido, mas com uma diferença importante, que torna o processo mais rápido:
“Na subida, para alcançar a velocidade da Estação Espacial Internacional, a Soyuz TMA-8, uma vez fora da atmosfera da Terra, foi acelerando lentamente, adquirindo velocidade devagar, para não gastar muito combustível. Por isso, levou dois dias para chegar ao seu destino”, explica Irajá. “Na volta à Terra, a nave precisa desacelerar, perder velocidade e isso acontece muito depressa. Primeiro, por conta da queima de foguetes, que desaceleram a nave para tirá-la da órbita e, depois, por conta da entrada na atmosfera, que funciona como um freio fantástico.” Proporcionalmente, foguete nenhum conseguiria acelerar tanto a Soyuz TMA-7 na viagem de ida quanto a atmosfera terrestre conseguirá desacelerar a nave no retorno à Terra.
Também é importante notar que a nave Soyuz é composta por três partes, ligadas entre si: o módulo orbital, o módulo de descida e o módulo de propulsão. O módulo de descida, que fica entre os outros dois, é onde viajam os astronautas e o único que volta para a Terra. Os outros, durante as manobras de descida, se separam e serão incinerados durante a reentrada na atmosfera. O módulo de descida, por sua vez, não queima porque possui um escudo térmico para protegê-lo.
Como podemos ver, os astronautas ganham tempo na viagem de volta ao nosso planeta. No entanto, sabia que eles perdem conforto? Pois é. O sofrimento é maior no retorno à Terra do que na ida à ISS. Os riscos da viagem também. Quer saber por quê? Então, confira amanhã no diário de bordo publicado aqui na CHC On-line!
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Diário de bordo do astronauta brasileiro!