Cópia fiel da natureza

A ave acima é chamada de garça-vaqueira, porque captura insetos quando acompanha o gado no pasto. O desenho foi feito pelo ilustrador Jorge Nacinovic.

Nos séculos 18 e 19, grandes expedições saíam da Europa rumo à América. A bordo das embarcações encontravam-se cientistas, artistas e nobres europeus que enfrentavam meses de viagem com o objetivo de chegar ao continente ainda pouco conhecido e explorá-lo: descobrir como eram as plantas, os animais, as pessoas que ali viviam para, então, mostrar a quem ficou na Europa o que havia nessas terras tão distantes. Na bagagem desses viajantes, papel e tinta eram artigos importantes, uma vez que o desenho e a pintura eram as formas possíveis de registrar as espécies encontradas pelos pesquisadores.

Passados alguns séculos, a história continua, de certa forma, parecida. Ainda hoje os cientistas partem em expedições para descobrir novas espécies. Quem pensa que não há muito mais a conhecer está enganado.

Só no Brasil são encontradas cerca de quatro novas espécies de animais vertebrados a cada três anos e somente procurando é possível revelar novos animais e plantas.

Jorge Nacinovic é um ilustrador científico especializado no desenho de aves. Ele trabalha no Museu Nacional, no Rio.

Mas com tantas espécies espalhadas por aí, e algumas muito parecidas, como saber que uma planta ou um animal ainda não é conhecido?

A tarefa de tirar dúvidas como essa cabe aos cientistas. Mas, nesse trabalho, eles contam com o auxílio de um profissional muito especial: o ilustrador científico.

No setor de ornitologia do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, por exemplo, encontramos Jorge Bruno Nacinovic. Ele desenha somente aves e nos explica a importância da sua profissão. “Diferenciar, por exemplo, um bem-te-vi de um suiriri – aves parecidas – é relativamente difícil. Às vezes, em outros casos, nem pela fotografia isso é possível. Com a ilustração, certos detalhes são mais destacados, pois o ilustrador científico não inventa, ele só reproduz o que vê”. Então, é claro que a tarefa de identificar uma nova espécie fica mais fácil!

O guia Aves Marinhas na Bacia de Campos foi escrito e ilustrado por Jorge Nacinovic.

Para desenhar os animais, Jorge, primeiro, aguarda o resultado das expedições científicas feitas por pesquisadores do Museu Nacional pelo Brasil, que duram em média três meses. Assim, quando um pesquisador encontra um animal que, a seu ver, pode pertencer a uma nova espécie, ele coleta o bicho da natureza e o compara com outros semelhantes. Para uma observação mais detalhada, o cientista precisa do desenho feito pelo ilustrador científico, que copia todos os detalhes do animal que serviu de amostra.

Depois de pronto, o desenho deve passar mais uma vez pela análise do especialista que encontrou o animal e essa ilustração servirá para ser publicada em revistas científicas, em guias de campo – livros para identificação de animais que vivem em uma região – e ainda em outras publicações. Jorge, por exemplo, escreveu e ilustrou o guia Aves Marinhas na Bacia de Campos , que descreve algumas espécies de aves marinhas encontradas na Bacia de Campos, ao largo do estado do Rio de Janeiro.

A ilustradora científica e paleoartista Renata Cunha trabalha no Museu de Ciências Naturais da UFPR.

Todas essas etapas do trabalho do ilustrador científico são bem conhecidas por Renata Floriano da Cunha – sendo que, para ela, cada uma traz um pouco do passado. Isso porque Renata, que é estagiária no Museu de Ciências Naturais da Universidade Federal do Paraná, é ilustradora científica, mas também paleoartista. Ou seja, além de retratar animais atuais, ainda desenha os já extintos. “Como paleoartista, acredito que representar as espécies traz uma sensação inexplicável. É uma viagem ao passado. E como não podemos trazer realmente esses animais incríveis de volta à vida, nós, ilustradores, estamos aqui para mexer com a fantasia das pessoas”.

Renata Cunha desenha também animais já extintos: acima, um desenho de pterossauros (répteis alados pré-históricos) feito por ela.

Então, para você que adora conhecer novos animais e até já desenhou bichos e plantas que viu por aí, Jorge e Renata dão um conselho: treine bastante. Não economize papel e tinta na hora de retratar as espécies. Ah! E quando for a um museu ou a uma exposição, aprecie os desenhos dos artistas amigos da ciência.