Você deve saber que, quando uma pessoa começa a praticar exercícios, seu corpo sofre diversas mudanças. O que você talvez não saiba é que, além de músculos mais fortes, quem se exercita sofre uma queda no ritmo cardíaco — ou seja, o coração de quem faz atividades físicas bate mais devagar do que o normal. Mas por que será que isso acontece?
Essa foi a pergunta feita por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Manchester, na Inglaterra. Para descobrir a resposta, os cientistas compararam a atividade do coração de ratos e camundongos sedentários com a de roedores que praticam exercícios todos os dias.
Após treinar uma hora por dia durante três meses, os animais tiveram o ritmo cardíaco diminuído quando comparados aos roedores que não praticaram exercício nenhum. O coração dos ratos e camundongos atletas batia num ritmo de 20 a 26% mais lentamente do que o dos animais sedentários.
“Vimos que isso acontece por causa de uma molécula chamada HCN4, que está em quantidade diminuída no coração dos atletas”, explica a fisiologista cardíaca e coautora da pesquisa Alicia D’Souza. Segundo a pesquisadora, essa molécula estimula a atividade do nodo sinoatrial, uma estrutura do coração que controla a quantidade de vezes que o órgão bate a cada minuto.
Por conta da baixa atividade dessa estrutura, o coração de um atleta bate mais lentamente. “Enquanto o coração de um adulto que não pratica exercícios bate, em média, 70 vezes por minuto, o de um atleta adulto pode chegar a bater 30 vezes por minuto, o que é menos da metade”, esclarece Alicia.
Lento e saudável
Ainda que bata mais devagar, em geral, o coração de quem pratica exercícios está cheio de saúde. Segundo o fisiologista do exercício Pedro Paulo Soares, da Universidade Federal Fluminense, o ritmo cardíaco mais lento é uma adaptação natural do corpo e não ocorre apenas em atletas, mas também em pessoas sedentárias que começam a fazer exercícios.
“Os atletas possuem um coração mais eficiente, capaz de bombear mais sangue a cada batimento e, por isso, precisa bater menos vezes para garantir a mesma quantidade de sangue que o corpo precisa, tanto em repouso quanto em exercício”, explica. “Um ritmo cardíaco mais lento só é preocupante em alguns casos, geralmente em atletas que praticam exercícios muito pesados.”
Assim como Pedro Paulo, Alicia defende que a prática de exercícios é importante para a saúde e que o estudo busca apenas compreender por que alguns atletas, quando chegam à velhice, precisam usar um marca-passo artificial – dispositivo eletrônico que estimula o coração a bater mais rápido.
“Queremos entender por que o coração responde dessa forma ao exercício, pois é provável que todo o coração sofra mudanças, não apenas uma região”, esclarece a pesquisadora. “Ainda que treinamentos muito pesados possam ser prejudiciais para o coração em alguns casos, a prática de exercícios moderados é essencial para manutenção da saúde”, completa.