Darwin e a volta ao mundo pelo Beagle

A bordo do Beagle, Darwin passou cinco semanas explorando as ilhas Galápagos (imagens: Ciência Hoje na Escola, volume 9).

Marinheiros, é hora de içar âncoras! Passageiros, embarquem! O capitão avisa que o veleiro Beagle está pronto para começar sua viagem ao redor do mundo! Os ventos que impediram o navio de zarpar duas vezes não apareceram hoje, 27 de dezembro de 1831, e o Beagle parte da Inglaterra. Leva a bordo um jovem inglês de 22 anos chamado Charles Darwin, o naturalista do navio. Seu trabalho é observar e estudar as características geológicas e naturais dos locais visitados. Darwin não receberá salário, mas quem precisa de dinheiro? A recompensa virá quando ele retornar à Inglaterra após cinco anos de viagem. Na bagagem, trará observações para desenvolver a teoria fundamental da biologia: a teoria da seleção natural.

Quem não gostou da viagem foi o pai de Darwin. Ele estava preocupado com o futuro do filho. E tinha motivos de sobra! Darwin havia abandonado a faculdade de medicina e, na época da partida do Beagle, estudava na Universidade de Cambridge para ser pastor. O pai de Darwin nem poderia imaginar que seu filho seria um importante cientista. Afinal, na infância, Darwin era considerado pelos professores um aluno com inteligência abaixo da média (leia o quadro ao lado).

Darwin embarcou no veleiro e trabalhou muito para ser respeitado como cientista. Atingiu seu objetivo ao propor a teoria da seleção natural. Até o século 19, era aceita a idéia de que animais, vegetais e o homem foram criados por Deus e não mudaram desde então. Mas, durante o trajeto do Beagle (veja a figura e o quadro abaixo), Darwin supôs que os seres vivos se modificavam. Notou que eles se adaptavam ao ambiente em que viviam e apresentavam características diferentes de acordo com o lugar que habitavam. Observou ainda que as espécies extintas e as atuais tinham pontos em comum.

Infância
Darwin nasceu na cidade inglesa Shrewsbury em 12 de fevereiro de 1809. Era um menino muito travesso e adorava contar mentiras. Fazia coleção de diferentes objetos: conchas, lacres, selos, moedas e minerais. Mesmo antes de ir à escola, já tentava descobrir os nomes das plantas. Darwin também gostava de passear sozinho, de pescar e de admirar paisagens. Era fácil encontrá-lo sentado durante horas à margem do rio para observar a correnteza.Darwin era uma criança muito boa e afetuosa. Gostava de colecionar ovos, mas nunca tirou mais de um ovo do ninho do passarinho. E quando aprendeu que poderia matar as minhocas com água e sal, nunca mais espetou uma minhoca viva para usar como isca!
Na escola, Darwin gostava de assuntos complexos e adorava ler peças de Shakespeare e poesia. Mas, durante a infância, ele queria mesmo era caçar, cuidar de cães e capturar ratos. Por isso, seu pai chegou a dizer que o cientista seria uma vergonha para si mesmo e para a família.

Em vermelho, a rota da viagem do Beagle.

A partir da Inglaterra, o Beagle navegou pela América do Sul, contornou o cabo Horn e rumou pela costa até o arquipélago de Galápagos, formado por cerca de 13 ilhas localizadas na altura do Equador (veja mapa acima). O veleiro então cruzou o Pacífico e chegou à Nova Zelândia e à Austrália. Do sul da Austrália, o Beagle atravessou o Oceano Índico, contornou o Cabo da Boa Esperança, passou de novo pelo Brasil e voltou para a Inglaterra em 1836.

Para Darwin, o Beagle funcionou como uma escola em alto-mar! Ele considerou a viagem a primeira educação que recebeu. Durante a viagem, Darwin tornou-se um excelente naturalista. Aprimorou sua capacidade de observação, investigou a geologia de todos os lugares visitados e colecionou animais de todas as classes, que descrevia. Também fazia dissecação superficial de animais marinhos e escrevia…um diário! Darwin tentava descrever tudo o que via em suas páginas.

Foi a bordo do veleiro que Darwin adquiriu um hábito muito importante: a atenção concentrada na atividade que estivesse realizando. Tudo o que Darwin pensava ou lia, ele tentava relacionar diretamente com o que via ou tinha probabilidade de ver.


Ao voltar a Londres, Darwin tentou descobrir por que os seres vivos se adaptavam ao ambiente. Em 1837, começou a pesquisar criações de animais e plantas. Viu que os fazendeiros escolhem para a reprodução animais com características vantajosas, como a força. O objetivo é aprimorar a espécie, pois os filhotes herdam as características dos pais. Mas como aplicar a seleção aos organismos que vivem na natureza?

A solução veio quando Darwin menos esperava! Em 1838, ele leu o livro Ensaio sobre o princípio da população , de Thomas Malthus. Segundo Malthus, é preciso controlar a natalidade para evitar epidemias, guerras e catástrofes geradas pelo excesso de população. Darwin percebeu que os seres vivos lutam pela sobrevivência e o vencedor é a espécie melhor adaptada ao ambiente. Os mais aptos e adaptados vivem por um período maior de tempo e geram mais filhos. Já os seres vivos menos aptos vivem menos e deixam número menor de descendentes. De forma gradual, aumenta a freqüência de mais aptos e diminui a de menos aptos. Até que os menos aptos desaparecem e são substituídos pelos mais aptos. Darwin havia formulado a teoria da evolução pela seleção natural! Mas o naturalista decidiu não escrever nenhuma linha sobre ela…