Um equipamento que permite observar bem de perto a vida dos animais na floresta sem ter que interferir no comportamento deles. Com as armadilhas fotográficas não é necessário pegar o animal, apenas imagens ou vídeos são coletados. Superlegal, não é?
Este método é bastante eficiente, mesmo quando os registros precisam ser feitos em lugares muito altos ou escondidos. As espécies são registradas por meio da fotografia ou filmagens, aumentando a confiabilidade do registro. As fotos e imagens são capturadas de dia ou de noite, pois o equipamento pode ser programado para funcionar 24 horas.
A armadilha
A armadilha fotográfica, na verdade, é uma caixa, que contém um sistema de sensores que capturam o movimento e o calor para fotografar e armazenar imagens em um cartão de memória.
O primeiro registro desse tipo de técnica de que se tem notícia aconteceu no início do século 19, quando um fotógrafo curioso chamado George Shiras, lá pelos anos de 1890, instalou fios camuflados e uma lâmpada de flash, acoplada a câmera fotográfica da época, para capturar as fotos de animais durante a noite. O próprio animal disparava a câmera e o flash quando esbarrava nos fios estendidos na floresta; por isso, o equipamento ganhou o nome de armadilha fotográfica. O uso dessas armadilhas por cientistas começou em 1920, por Frank Chapman na ilha de Barro Colorado, no Panamá, quando tentava registrar mamíferos terrestres raros de serem observados.
No alto dos ninhos
Registrar o que acontece em um ninho de harpia não é tarefa fácil. Este gavião constrói seus ninhos nas árvores que chamamos de emergentes (aquelas que crescem mais de 40 metros de altura na Amazônia). Eles ficam localizados no ramo principal da árvore, em média a 32 metros de altura. Acessar estes ninhos para instalar armadilhas fotográficas é um dos maiores desafios no estudo da harpia. Para isso, precisamos de um especialista em escalar árvores com equipamentos de segurança e habilidades para se movimentar na árvore e instalar o equipamento.
De 2012 a 2016, as armadilhas fotográficas funcionaram em 10 ninhos de harpia, capturando imagens do que acontecia no ninho. A análise dos dados coletados com esta técnica forneceu informações valiosas sobre como a espécie se reproduz, constrói seus ninhos e cuida dos filhotes até eles poderem voar sozinhos e irem embora. As armadilhas fotográficas estavam equipadas com um detector de movimento para registrar continuamente a atividade da harpia no ninho, inclusive no período noturno.
Além do comportamento da harpia no ninho, durante as primeiras análises, 21 espécies de aves e mamíferos foram fotografadas quando pousavam ou subiam no ninho da ave. Entre as espécies registradas, podemos destacar o tamanduá-mirim, a irara, o macaco-prego, outros gaviões e tucanos. Algumas destas espécies servem também de alimento para a harpia, mas somente o macaco-prego virou refeição quando passou em um dos ninhos da harpia, e foi registrado em fotos pela armadilha fotográfica.
24 horas em foco
Essas câmeras funcionaram durante 24 horas por dia e não perturbaram a reprodução e criação dos filhotes nos ninhos de harpias estudados. Com o uso dessa técnica, os pesquisadores puderam obter informações sobre o comportamento da harpia para observar o que acontece no entorno dos ninhos e identificar ameaças à sua reprodução. Assim, eles podem sugerir ações para preservar esses gaviões.