Espelho, espelho meu

Imagine a cena: uma elefanta olha para dentro de sua própria boca em frente a um espelho. Parece trecho de desenho animado, mas não é. Uma pesquisa liderada por psicólogos acaba de mostrar que os elefantes se reconhecem ao ver sua imagem refletida num espelho. Até agora só se sabia que os grandes macacos e os golfinhos – além, é claro, dos seres humanos – conseguem compreender que, ao olhar para um espelho, estão vendo a si mesmos.

Esse desenho mostra como o espelho foi colocado no zoológico de Nova Iorque. (Crédito: F. Plotnik).

Se você tem algum bichinho de estimação, pode fazer o teste. Os gatos e cachorros, por exemplo, quando são postos na frente de um espelho, agem com curiosidade, mas logo depois se desinteressam pelo que vêem. “Gatos e cães podem aproximar-se do espelho, às vezes dar a volta para ver se há alguma coisa atrás, ou, então, nem prestar atenção”, conta César Ades, pesquisador do departamento de psicologia experimental da Universidade de São Paulo. “Já algumas espécies de passarinhos e certos macacos acreditam que a imagem refletida é um outro animal, chegando a brigar com seu reflexo ou até fugir dele”. Os elefantes, por sua vez, se comportam de maneira diferente, como comprovaram os cientistas após realizarem experimentos com esses animais.

Por cerca de cinco dias, todas as manhãs, três elefantas – Happy, Maxine e Patty – eram colocadas, por uma hora, na frente de um espelho que foi pregado na parede do pátio onde elas vivem no zoológico de Nova Iorque, Estados Unidos. Durante esse tempo, três câmeras filmaram todos os movimentos dos bichos, sendo que uma, posta atrás do espelho, mostrou bem as reações dos paquidermes.

O espelho usado no experimento era enorme: tinha quase 1,20 metro de largura por 2,50 metros de altura. No primeiro contato com ele, os elefantes mostraram curiosidade pelo novo objeto. Investigaram a sua superfície e a sua moldura, tocando em ambos com a tromba e até farejando. A parede onde estava o espelho também foi explorada pelos bichos, que tentaram escalar o muro para ver o que tinha do outro lado.

É importante dizer, porém, que os cientistas também observaram os elefantes quando ainda não havia sido posto o espelho no zoológico e, quando fizeram isso, primeiro deixaram o espelho coberto para só então revelá-lo por completo. Isso foi fundamental para mostrar que os elefantes faziam coisas na frente do espelho que não realizavam quando ele não estava lá.

Quer alguns exemplos? Os elefantes fizeram suas refeições bem na frente do espelho, coisa que nunca tinham feito antes. Além disso, eles balançaram sua tromba e seu corpo repetitivamente e de um jeito diferente do normal. Maxine chegou a colocar a ponta da tromba dentro da boca e agir como se estivesse analisando o seu interior. Além disso, ficou jogando a orelha de um lado para o outro na frente do espelho – comportamentos que indicam a tendência dos elefantes de analisar seus próprios corpos, assim como nós fazemos na frente de um espelho.

Outro teste bem bacana foi o seguinte: os pesquisadores fizeram um X bem em cima do olho dos elefantes, ou seja, num lugar que eles não conseguem enxergar. Quando ficou na frente do espelho, Happy começou a tocar a tal da marquinha que fizeram nela. O que isso quer dizer? “Um elefante que esfrega uma marca que viu, ao espelho, no seu rosto, está demonstrando capacidade de pensar que a imagem que ele vê diante de si na verdade corresponde ao seu próprio corpo”, conta César Ades.

 

À esquerda, a elefanta Happy com um X marcado sobre o olho esquerdo. À direita, ela toca, com a tromba, o X ao se ver no espelho. Isso mostra que Happy foi capaz de entender que a imagem refletida era dela mesma. (Fotos: Joshua Plotnik).

Ficou assim comprovada a capacidade de os elefantes se reconhecerem no espelho. E se você achou essa pesquisa divertida, saiba que, para entender mais sobre como funciona a mente desses animais, muitos estudos ainda virão. A conferir!