Eu, você, elefantes, gatos e orangotangos

O que o homem, o elefante e o orangotango têm em comum? Eis aí uma pergunta que muita gente não hesitaria em responder. Afinal, basta pensar um pouco para lembrar que eles são mamíferos: animais de sangue quente, alimentados com leite materno ao nascer. Mas você sabia que há outro detalhe a unir os três?

Elefante, gato, orangotango: o que será que eles têm em comum? (fotos: NHGRI - Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano/EUA)

Se retirássemos uma célula do homem, outra de um elefante e mais uma de um orangotango, encontraríamos, dentro do núcleo de cada uma, a mesma coisa: algo que poderíamos comparar a um livro de receitas. Chamado de genoma, ele concentra as instruções para fazer cada parte do corpo dos seres vivos.

O homem, o orangotango e o elefante, porém, não têm só o livro em comum: eles têm também certas receitas! Afinal, como todos são mamíferos, é claro que algumas instruções para formá-los são iguais. Mas onde estão as semelhanças e as diferenças entre eles? É isso que cientistas do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano dos Estados Unidos estão tentando descobrir!

Para tanto, eles vão ler os ’livros de receitas’ de cada animal. Ou, como preferem dizer, desvendar o seu genoma. Mas o ’livro de receitas’ para fazer um ser vivo não é como um livro comum: em vez de ter páginas, ele é “escrito” em uma fita, bem comprida e retorcida para caber dentro do núcleo das células, o DNA. Além disso, cada receita que o livro contém chama-se gene!

O desenho representa a molécula de DNA: uma fita comprida e retorcida que guarda a informação genética no núcleo da célula

A “leitura” parece trabalhosa? De fato, é. Ainda mais para os cientistas americanos, que querem desvendar o genoma de 18 animais! Mas a iniciativa vale a pena, já que eles não vão apenas descobrir a receita para fabricar bichos, mas também entender melhor o próprio homem. Afinal, a cada genoma desvendado, a ciência chega mais perto de encontrar os genes humanos — as receitas ou instruções! — envolvidos no desenvolvimento e nas doenças do organismo.

Mas quais bichos terão seus “livros de receita” estudados? Os primeiros serão nove mamíferos! A partir deles, os cientistas querem identificar os genes comuns ao homem e aos outros mamíferos. Isso porque, como explica Franklin Rumjanek, professor do Departamento de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, “quanto mais próximos os bichos estudados, mais semelhante entre si é o seu DNA”.

Unindo o resultado da pesquisa com o orangotango ao de outras — que descreveram o genoma do chimpanzé e do macaco rhesus — o objetivo é descobrir o que distingue os primatas dos outros bichos e o que separa o homem dos outros primatas.

Entre esses mamíferos, dois merecem destaque: o gato doméstico, importante para o estudo da doença chamada toxoplasmose, e o orangotango , escolhido por ser um primata: um membro do grupo de animais mais próximo ao ser humano.

Mas os cientistas analisarão ainda nove animais que não são mamíferos, como o caramujo que transmite a esquistossomose e a lampreia-do-mar. O intuito, ao estudar seres que já existiam antes do homem, é descobrir, por comparação, como evoluíram as seqüências de DNA, desde os animais mais simples até os mais complexos.

No futuro, conhecer melhor o genoma do homem pode ser útil para evitar ou curar as doenças causadas por defeitos nos genes. “Além disso, o genoma pode ser considerado um banco de dados”, diz Franklin. “Poderemos consultá-lo sempre que tivermos uma idéia de pesquisa que envolva os genes já conhecidos.” Então, que comece já o estudo com a bicharada, não é?!